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terça-feira, julho 01, 2003
Esta imagem é muito rara. No Verão, o Sol põe-se mais a norte, por cima das casas. Para ver estas cores é preciso um fim de tarde de Inverno com apenas algumas nuvens altas, no sítio certo. E muito frio.
Quase todos vocês já o viram. Mas não se devem lembrar. À chegada fica-vos de um lado e vocês olham para o outro. À partida é a cena inversa. E enquanto lá estão, não vão à janela olhar para ele. Eu que lá moro/morei, conheço-o bem. Bem somadas, foram muitas horas à janela, a ver a chuva, o sol, as nuvens, o céu, o rasto de um avião, quem tocou à campainha, a relva, os arbustos, os gatos e o carvalho do outro lado da rua.
A palmeira do lado de cá da rua cresceu comigo. Há fotos a prová-lo, caso eu não me lembrasse de vê-la pequena. Mas lembro-me. A nespereira também. Também já foi pequena e eu lembro-me. Mas o carvalho, pelo menos para mim, sempre teve aquele tamanho. Assistiu impassível ao que foi passando por ele.
Quando eu era novo, eram as carroças puxadas a burro que passavam por ele. E o som era o dos estalidos da língua dos homens e das mulheres a incentivar o animal entre dois "arre burro". Hoje já não há burros. Quer dizer, há: em locais turísticos de actividades de fim-de-semana. Andar de burro agora é um desporto radical: viva a natureza e o nosso jipe que nos leva para longe da cidade para mostrar aos nossos filhos que afinal os ovos saem do cu das galinhas! (tudo reservado com antecedência pela internet, manda uma mensagem à avó a dizer que chegámos bem)
Agora o que passa por ele são carros e camiões. Alguns já lhe acertaram. Outros vieram direitos ao meu muro (o chamado cruzamento de fraca visibilidade). Mas ele continua impávido e sereno. Em dias de forte temporal lá se agita um pouco; há uns meses caiu-lhe mesmo uma braça.
Quando eu era pequeno, ia com o meu avô apanhar as bolotas que caíam do outro lado da rua.
Jorge Moniz às 12:21 |
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