(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



morder
o passado

 
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segunda-feira, julho 07, 2003



Vi na televisão as siamesas iranianas a dizerem o que iam fazer nos últimos momentos antes de iniciarem a cirurgia para as separar: ler o Corão para se sentirem mais perto de Deus. Entre sorrisos acrescentaram mais algumas declarações, sempre com referências à sua fé. É sabido que os muçulmanos são muito mais praticantes da sua religião que os cristãos. Por "praticar" não entendo aqui as missas, orações e afins: entendo viver de acordo com a sua fé, o que muitas vezes se aplica menos a quem faz as actividades regulamentares assiduamente. E nos tempos que correm é refrescante ver duas mulheres muçulmanas com dois grandes sorrisos nos lábios apesar dos corações nas mãos. Digo falarem, mas foi quase só uma que falou. Porque, de facto, nos siameses há sempre um "dominante" e um "dominado". E a separação pode ser fatal, pelo menos para o dominado. E então lembrei-me.
Era uma vez dois irmãos gémeos, não siameses, que se interessavam pelos que o eram. Desde pequenos coleccionavam todos os recortes de jornais relacionados. Quando cresceram, decidiram dedicar-se ao cinema. E escreveram, realizaram, interpretaram um filme chamado Twin Falls Idaho.



Este é o cartaz de cinema mais genial que eu já vi. Há filmes que no fim dão uma volta à história e nos fazem querer voltar ao início para rever tudo. Este faz-nos voltar ao cartaz. Porque quem não sabe ao que vai não repara bem nele.

E o filme mostra que apesar de tudo há o humor - "Maybe I'll call you when I'm single."
E que apesar de tudo há a solidão - "The minute I wake up and the minute I fall asleep - those two minutes I get lonely. I try to toss them before they get ahold of me."
E que um passeio de bicicleta numa ravina pode ser a metáfora mais bela para o que não se pode mostrar.

"In time, every sad ending becomes happy. It's just a sad ending because the author stops telling the story."

Jorge Moniz às 17:16 |