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sexta-feira, fevereiro 20, 2004
Bairros de Paris: Montparnasse
Antes dos imigrantes portugueses, os homens que em Paris trabalhavam na construção e as mulheres na limpeza vinham da província, sobretudo da Bretanha. Na segunda metade do século XIX, o comboio que os trazia deixava-os na Gare de l'Ouest, em pleno bairro de Montparnasse. A afluência foi crescendo e uma nova gare, já chamada de Montparnasse, teve de ser construída no mesmo local.
A 22 de Outubro de 1895, um maquinista zeloso conduzia um comboio que tinha partido com algum atraso. Para recuperar tempo entrou demasiado rápido na gare e não conseguiu parar antes do fim da linha. A locomotiva despenhou-se de uma altura de 10 m sobre uma paragem de eléctricos. Alguns anos mais tarde foi então construída a terceira, e actual, gare, umas dezenas de metros mais a sul. Na localização original está hoje o conhecido pedaço vertical de Manhattan que se vê de toda a cidade.
Os bretões que chegavam, instalavam-se nas redondezas da gare e a partir de 1935 foram-se abrindo por ali cafés e restaurantes onde se bebia a cidra, se comiam os crepes e depois se arredavam as mesas para se tocar e dançar música celta. Ainda hoje isso acontece em alguns locais e as crêperies em Montparnasse encontram-se em cada porta. Ainda hoje, num pátio escondido, os que têm saudades da sua terra reúnem-se e lêem contos da mitologia celta ao som da harpa.
Montparnasse é também bairro de pintores. No final da Exposição Universal de 1900, a estrutura metálica do pavilhão dos vinhos de Bordéus, desenhada por Eiffel, foi aproveitada para a construção de um conjunto de 140 ateliers em alvéolos. Chamava-se e chama-se La Ruche (a colmeia) e sucedeu ao Bateau-Lavoir de Montmartre. Enquanto por este passaram Gauguin, Picasso, Braque, Modigliani, La Ruche acolheu Soutine, Chagall, Léger, de novo Modigliani e muitos outros artistas vindos de todo o mundo, que ainda hoje lá trabalham e vivem.
Todos estes pintores precisam naturalmente de matéria-prima: tintas, óleos, pastéis, cores. A mais antiga loja de cores (só este nome é fabuloso) de Montparnasse tem atrás do balcão a bisneta do seu fundador e mantém todas as estantes, armários, prateleiras e gavetas nos mesmos lugares. Nas paredes estão pinceladas amostras de cores criadas por encomenda nas traseiras da loja. Picasso trouxe para ali um novo tipo de pastel, mais gordo do que o habitual, e ao abrir as gavetas encontram-se milhares de cores, formas e texturas diferentes.
Era hábito os pintores pagarem as compras com os seus próprios quadros, também uma forma irónica de a cor voltar ao local onde nasceu. O meu amigo Amedeu, esse, tinha fama de mau pagador.
Jorge Moniz às 16:04 |
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