(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



morder
o passado

 
<< hoje



e-mail

This page is powered by Blogger.

Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com















sexta-feira, fevereiro 20, 2004


Bairros de Paris: Montparnasse
Antes dos imigrantes portugueses, os homens que em Paris trabalhavam na construção e as mulheres na limpeza vinham da província, sobretudo da Bretanha. Na segunda metade do século XIX, o comboio que os trazia deixava-os na Gare de l'Ouest, em pleno bairro de Montparnasse. A afluência foi crescendo e uma nova gare, já chamada de Montparnasse, teve de ser construída no mesmo local.
A 22 de Outubro de 1895, um maquinista zeloso conduzia um comboio que tinha partido com algum atraso. Para recuperar tempo entrou demasiado rápido na gare e não conseguiu parar antes do fim da linha. A locomotiva despenhou-se de uma altura de 10 m sobre uma paragem de eléctricos. Alguns anos mais tarde foi então construída a terceira, e actual, gare, umas dezenas de metros mais a sul. Na localização original está hoje o conhecido pedaço vertical de Manhattan que se vê de toda a cidade.
Os bretões que chegavam, instalavam-se nas redondezas da gare e a partir de 1935 foram-se abrindo por ali cafés e restaurantes onde se bebia a cidra, se comiam os crepes e depois se arredavam as mesas para se tocar e dançar música celta. Ainda hoje isso acontece em alguns locais e as crêperies em Montparnasse encontram-se em cada porta. Ainda hoje, num pátio escondido, os que têm saudades da sua terra reúnem-se e lêem contos da mitologia celta ao som da harpa.

Montparnasse é também bairro de pintores. No final da Exposição Universal de 1900, a estrutura metálica do pavilhão dos vinhos de Bordéus, desenhada por Eiffel, foi aproveitada para a construção de um conjunto de 140 ateliers em alvéolos. Chamava-se e chama-se La Ruche (a colmeia) e sucedeu ao Bateau-Lavoir de Montmartre. Enquanto por este passaram Gauguin, Picasso, Braque, Modigliani, La Ruche acolheu Soutine, Chagall, Léger, de novo Modigliani e muitos outros artistas vindos de todo o mundo, que ainda hoje lá trabalham e vivem.
Todos estes pintores precisam naturalmente de matéria-prima: tintas, óleos, pastéis, cores. A mais antiga loja de cores (só este nome é fabuloso) de Montparnasse tem atrás do balcão a bisneta do seu fundador e mantém todas as estantes, armários, prateleiras e gavetas nos mesmos lugares. Nas paredes estão pinceladas amostras de cores criadas por encomenda nas traseiras da loja. Picasso trouxe para ali um novo tipo de pastel, mais gordo do que o habitual, e ao abrir as gavetas encontram-se milhares de cores, formas e texturas diferentes.
Era hábito os pintores pagarem as compras com os seus próprios quadros, também uma forma irónica de a cor voltar ao local onde nasceu. O meu amigo Amedeu, esse, tinha fama de mau pagador.

Jorge Moniz às 16:04 |