(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



morder
o passado

 
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quinta-feira, março 18, 2004



Quase já nem anda, mas ainda se consegue arrastar. Chega à beira do passeio, pára, olha para um lado e para o outro. Sabe que a travessia da rua vai ser lenta, muito lenta e convém ter a certeza que não vem lá nenhum carro lançado. É que a audição também já não é o que era e há uma curva ali em baixo a tapar a visibilidade.
Começa então a pisar o asfalto, nervoso e só respira fundo ao chegar ao separador central. Pensa com os seus botões: "Há quantos anos já faço eu este caminho? Quantos milhares de rapazes e de raparigas já conheci aqui, quantos me trataram bem, quantos me trataram a pontapé?"
Já não se lembra. Já não se lembra quem lhe inventou a alcunha, porque o nome mesmo foram os mais velhos que lho deram. Já não se lembra quem fez dele personagem de banda-desenhada. Já não se lembra de ter passado pelo hospital para ser operado a um quisto intestinal. Já não se lembra que a geração de rapazes e de raparigas da época se uniu para ajudar nas despesas.

Ontem às 17:00 o Nabunda ainda estava vivo, atravessava a Rovisco Pais com a decadente elegância dos seus talvez 20 anos.

Jorge Moniz às 12:10 |