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quinta-feira, março 18, 2004
Quase já nem anda, mas ainda se consegue arrastar. Chega à beira do passeio, pára, olha para um lado e para o outro. Sabe que a travessia da rua vai ser lenta, muito lenta e convém ter a certeza que não vem lá nenhum carro lançado. É que a audição também já não é o que era e há uma curva ali em baixo a tapar a visibilidade.
Começa então a pisar o asfalto, nervoso e só respira fundo ao chegar ao separador central. Pensa com os seus botões: "Há quantos anos já faço eu este caminho? Quantos milhares de rapazes e de raparigas já conheci aqui, quantos me trataram bem, quantos me trataram a pontapé?"
Já não se lembra. Já não se lembra quem lhe inventou a alcunha, porque o nome mesmo foram os mais velhos que lho deram. Já não se lembra quem fez dele personagem de banda-desenhada. Já não se lembra de ter passado pelo hospital para ser operado a um quisto intestinal. Já não se lembra que a geração de rapazes e de raparigas da época se uniu para ajudar nas despesas.
Ontem às 17:00 o Nabunda ainda estava vivo, atravessava a Rovisco Pais com a decadente elegância dos seus talvez 20 anos.
Jorge Moniz às 12:10 |
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