(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



morder
o passado

 
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terça-feira, abril 27, 2004



Há uns anos uma amiga pediu-me para usar um cartão de estacionamento meu durante uns meses que eu ia passar no estrangeiro. Eu respondi que não, porque isso não era permitido pelo regulamento do parque de estacionamento. Ela ficou um bocado chateada.
O tipo de atitude que eu tive é socialmente mal visto. Não me venham dizer que é só em Portugal. Digamos que é algo característico dos povos latinos, ou de latitudes mais próximas do equador que dos pólos.
Independentemente do que é ilegal ou crime, roubar um chocolate do supermercado não é socialmente aceite. Mas ter a caixa da TV Cabo pirateada já é. E pode até causar invejas. Ninguém censura o amigo que anda a 121 km/h na auto-estrada. Na Suíça, é prática comum denunciar alguém que passe por nós em excesso de velocidade. O suíço sai da auto-estrada e vai avisar a polícia que o carro com a matrícula tal passou por ele em grande velocidade.
A denúncia nos países latinos é mal vista. Em primeiro lugar estão as relações pessoais e a honra, mesmo que para isso se passe por cima da lei. O facto de um amigo pedir a outro um favor ou um jeitinho ligeiramente irregular ou ilegal não causa problemas de consciência. Desde que não se prejudique ninguém (ou quase), tudo bem. As coisas começam a tornar-se mais complicadas quando os níveis de poder e responsabilidade aumentam. Quando se é, por exemplo, autarca e dirigente de vários organismos. Já estão a ver onde vou chegar?
Isto veio simplesmente a propósito do Major Valentim Loureiro, nas várias declarações que tem feito à imprensa, não ter falado em cabalas, perseguições, equívocos. Não o ouvi proclamar inocência.

"Não irei desiludir ninguém", referiu Valentim Loureiro, admitindo que não é "um homem perfeito" e, como tal, tem os seus "pecadinhos", mas garantiu ter "a consciência tranquila" e que nada lhe pesa.

Ele se calhar só estava a ser amigo. À maneira latina.

Jorge Moniz às 21:09 |