(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



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o passado

 
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sábado, abril 24, 2004


A história desta foto da cadeira (ou do pescador desaparecido)
A data eu podia dizê-la, mas tinha de ir vasculhar em agendas antigas ou nas costas da fotografia e não me apetece. Digamos apenas que foi nos dias seguintes ao referendo em Timor-Leste. Enquanto em Portugal toda a gente se manifestava, eu olhava para o Adriático.
Na véspera daquela manhã decidi acordar cedo. Porque nunca tinha visto um nascer-do-sol no mar. A maré estava baixa, como sempre naquela costa – andam-se dezenas de metros mar adentro com a água pelos joelhos. E a bandeira está sempre vermelha. Perguntei ao recepcionista do hotel porquê, ele encolheu os ombros e disse qualquer coisa de correntes... Para mim é mais porque quase todos os veraneantes são idosos.
Quando cheguei à praia ela ainda estava fechada. Literalmente. Numa extensão de quilómetros toda a praia está concessionada e repleta de chapéus-de-sol, espreguiçadeiras e vestiários permanentes, como que congelados nos anos 20. Por isso há portões que se fecham à noite – a praia tem mesmo horário de funcionamento.
Existe no entanto um pedaço de areia livre, junto ao pontão que delimita a entrada para a marina de Rimini, a cidade de Fellini (e agora de Pantani, também).
Enquanto andei para trás e para a frente neste pontão não vi ninguém. O Sol nasceu, tirei fotografias, vi pedaços de limão abandonados e esta cadeira. Imagino que pertencesse a um pescador, pela sua posição e pelo padrão da camisa. Mas não havia vestígios nem de pescador nem de cana. Por que teria ele saído sem levar pelo menos a camisa? Teria levado a cana ou nem sequer a tinha trazido? Ou nem sequer era pescador? Há quanto tempo estaria abandonada aquela cadeira ali? E todas estas perguntas mais não fazem do que adiar a pergunta mais importante: quando ele se levantou da cadeira, terá apenas dado dois passos em frente?

Jorge Moniz às 14:07 |