(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



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o passado

 
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terça-feira, abril 06, 2004


O som
Não está sol. Há apenas uns raios que a espaços furam uma nuvem e dão um brilho prateado às curvas cinzentas desenhadas no mar.
O som das ondas é apenas interrompido pelo ruído de um carro que chega ou parte e pelo barulho de portas a baterem. Quase não há gaivotas nem vozes - a maioria das pessoas vem sozinha.
Uns, em grandes carros, saem por momentos e sobem a uma duna. Enquanto seguram a gravata contra o vento, olham para os dois extremos da praia. Depois voltam ao série 5 e partem. Sem mais explicações.
Outros vêm com grandes botas, abrem o porta-bagagens do Corsa e tiram uma cana e um balde de plástico com anzóis e iscas. Demoram-se mais.
Há depois as excepções. Como aquelas duas mulheres que falam em espanhol enquanto caminham pelo areal apanhando conchas e pedras. Ou aquele casal alemão que passeia uma cadela pachorrenta. Ou esta família franco-alemã que toma banho na espuma das ondas de 6 metros e muda de roupa nas traseiras da carrinha atulhada de sacos-cama, roupa diversa e loiça ruidosa.
Há também os casais em busca de recato. Os silenciosos e legítimos. E os silenciosos e mutuamente adúlteros (duas alianças e dois carros).
Cada um tem uma noção inconsciente e precisa do tempo que lhe é permitido ficar – o parque de estacionamento nunca fica cheio nem vazio. Alguns trazem a janela aberta, mas o rádio silencioso.
Há uma cabine telefónica enferrujada e silenciosa. Há um café fechado e silencioso.
É então que sinto um calor inesperado. Olho para cima por um instante a confirmar. Logo de seguida fecho os olhos e vejo um sol verde num céu negro.
O som das ondas é agora acompanhado pelo de um lápis que rabisca num pedaço de papel. Em pura ressonância.

Jorge Moniz às 22:27 |