(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



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o passado

 
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quarta-feira, maio 05, 2004


30
Antes daquela data, a povoação era conhecida pelo nome ou alcunha de Aldeia dos 30. Vários factos estranhos demais para serem coincidência levaram a este baptismo. A aldeia tinha 30 casas, cada uma separada da mais próxima por 30 passos. Nelas moravam 30 pessoas. Não uma em cada casa, porque de facto havia famílias completas e casas vazias. Havia quase 30 anos que era assim.
Quando uma mulher engravidava, os mais idosos da aldeia inquietavam-se. Porque já sabiam que dali a nove meses, no mesmo dia, na mesma hora, no mesmo minuto, no exacto segundo em que o bebé nascesse, alguém iria morrer. Para que continuassem a ser 30. Ao longo do tempo houve, no entanto, casos em que não foi um dos mais velhos a morrer - houve alguns acidentes, crimes, até mesmo doenças incuráveis.

Tudo isto se alterou no dia exacto em que passaram 30 anos de ordem e rigor nas regras não impostas daquela aldeia. No deserto começou a vislumbrar-se uma nuvem de pó que se aproximava. À distância de 30 metros tornou-se visível um estranho veículo, uma espécie de hovercraft, mas com formas redondas, de disco.
Na Aldeia dos 30, 29 pessoas assustadas recolheram a suas casas. O hovercraft imobilizou-se diante da porta indicada no seu plano de voo e uma bizarra criatura vermelha com quatro braços saiu. Já era esperado. Os quatro braços pegaram em quem não teve medo e apenas não sabia o quando. Juntos recolheram para dentro do hovercraft e desapareceram a alta velocidade numa nova nuvem de pó.
Porque a Aldeia dos 29 estava muito longe do mar.

Jorge Moniz às 11:28 |