(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



morder
o passado

 
<< hoje



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segunda-feira, maio 10, 2004


Pediram-me para fazer um post durante o almoço
Mas assim? Por encomenda e sem tema específico? Como é que se faz? Fala-se do quê? Podia meter mais um quadro ou a letra de uma música, mas seria batota. Podia falar da situação económica do país, do futebol, dos tribunais, do filho da Bárbara e do Manuel, mas isso não tem interesse nenhum.
Já sei! Vou abrir uma gaveta, pegar no primeiro objecto que me aparecer e falar sobre ele.



(pausa de alguns minutos)



As cassetes.
As cassetes áudio, não as vídeo. Ainda alguém as usa? Quer dizer, eu não vejo outra maneira de se gravar algo que está a dar na rádio, mas hoje em dia o que se faz é tomar nota do nome da música e puxá-la da internet.
Eu tenho ali muitas. A maior parte já não as ouço há muitos anos. Aquelas com álbuns gravados de amigos, voltei a pedi-los e gravei-os para CD. Aquelas com colectâneas de discos meus para ouvir no walkman, idem. As outras com coisas de rádio para ali estão perdidas...
Há uma que eu tenho sempre na aparelhagem porque não tenho diapasão e tem lá uma música muito prática para afinar a viola. Tirando isso usei uma noutro dia para gravar uma coisa na rádio. Ficou péssimo. As fitas magnéticas com o tempo degradam-se muito (e o facto de elas estarem guardadas debaixo de uma televisão também não ajuda nada).
Mas ainda me lembro de as comprar. Havia três tipos: I (ferro), II (crómio) e IV (metal). Acho que nunca soube o que teria sido o tipo III... O preço e a qualidade aumentavam nesta ordem. Quanto às marcas dizia-se que as cassetes que cheiravam pior eram as melhores. Traziam os autocolantes para se colar de um lado e do outro. Era uma coisa que já podia vir de fábrica assim, mas tinha piada meter aquilo e escrever os nomes das músicas na caixa. E havia aqueles pequenos algarismos para as numerar.
Lembro-me de ligar o vídeo à aparelhagem para gravar bandas sonoras e diálogos de filmes. Lembro-me de enrolar um pouco com o dedo para passar a zona transparente antes de começar a gravar. E da chatice que era quando a cassete acabava a meio de uma música. E quando a fita saía e depois andava com o lápis a enrolar aquilo tudo engelhado. E de terem aparecido os decks com auto-reverse. E depois a busca do silêncio entre músicas, para avançar para a faixa seguinte (com músicas ao vivo não resultava muito bem).
Tenho pena de não ter escrito as datas de gravação. Mas quando pego nelas, as minhas cassetes têm sobretudo memórias de épocas da minha vida. Lembro-me em que escola estava, quem me emprestou o LP e de pequenas ou grandes histórias associadas a uma ou outra música que nunca mais ouvi.

(está bem assim ou queres mais comprido?)

Jorge Moniz às 12:45 |