|
|
quinta-feira, junho 10, 2004
Era uma vez...
... um poderoso rei da Grécia, há muitos muitos anos. Este rei, homem de alta estatura, sabia usar o seu poder com justeza e sabedoria e os seus súbditos não tinham nada de que se queixar. Tinha trinta filhas, cada uma mais bela que a outra, e todas tinham sido educadas nos bons valores da família.
Quando chegou a idade de casarem, o rei procurou em países amigos reis que pudessem convir às suas filhas. E assim se marcou uma gigantesca boda de trinta casamentos no mesmo dia. Ora as princesas habituadas ao poder de que gozavam, reuniram-se antes do casamento e decidiram por comum acordo que não se iriam submeter às vontades dos seus futuros maridos e que iriam ser sempre senhoras de si. Combinaram assim um encontro para alguns meses depois, de modo a verificarem como corriam as coisas.
Quando chegou essa data, todas elas tinham razões de queixa, nenhuma conseguia vergar o marido à sua vontade. A mais velha das irmãs propôs então algo terrível: matarem os maridos com as suas próprias mãos, todas ao mesmo tempo, enquanto eles estivessem estendidos nos braços delas prestes a atingirem a suprême jouissance. Todas concordaram e o tempo foi passando até à fatídica data. No entanto acontecia que a irmã mais nova amava muito o seu marido e que este a tratava bem. Ela não resistiu e contou-lhe o plano maquiavélico que se aproximava da concretização. Rapidamente partiram para a Grécia, onde denunciaram tudo ao poderoso rei, que fez chamar todas as outras filhas e os seus maridos.
Uma vez lá, foram impiedosamente julgadas e condenadas. Deixaram-nas sem mantimentos dentro de um barco que foi puxado para alto mar, com a ordem precisa de nunca mais tornarem a pisar terras de seu pai.
O tempo passou, a fome instalou-se e elas iam andando à deriva. A certa altura desfaleceram mesmo e quando voltaram a acordar, notaram que o barco tinha encalhado numa maré mais baixa do que alguma vez tinham visto. Elas nunca tinham visto outro mar que não fosse o Mediterrâneo.
Desceram a terra e declararam-na sua. Encontraram raízes e frutos com que se alimentaram, mais tarde até mesmo animais que caçaram. Com o tempo descobriram tratar-se de uma ilha até então inabitada e decidiram instalar-se ali para toda a vida.
Acontece que passado algum tempo começaram a sentir a falta de algo. Houve uns demónios que se aperceberam do seu desejo e durante a noite tomaram a forma de homens e proporcionaram-lhes o prazer que elas esperavam. Desse encontro nasceram mais tarde trinta meninos que foram crescendo para se tornarem trinta gigantes. Estes como não tinham outras mulheres, copularam com suas mães e mais gigantes homens e gigantes mulheres foram nascendo.
Passados muitos anos havia gigantes espalhados por toda a ilha. Nessa altura foram atacados por um troiano chamado Brutus (que tinha fundado a cidade que mais tarde se chamaria Roma), acompanhado de um exército de gauleses. Todos os gigantes foram mortos excepto um único que contou aos invasores toda a história da ilha até à sua chegada.
Brutus decidiu então baptizar a ilha conquistada a partir do seu nome (Britannia) e chamou aos seus habitantes Britonnes.
(adaptado de Jean Markale, La naissance du roi Arthur)
Jorge Moniz às 10:33 |
|
|
|