(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



morder
o passado

 
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sexta-feira, junho 18, 2004



O meu irmão é que tinha razão. Ou se calhar não... não sei... Eu já não sei nada desta vida... Ele aproveitou os tostões que o nosso pai poupou e seguiu estudos. É bancário e esses tipos safam-se bem, ficam com boas reformas. Eu, como achava que não era inteligente, usei a minha parte do dinheiro para abrir uma taberna ali ao pé da Igreja de S. Domingos. Sim, era ao lado da Ginjinha... Fechei há quatro anos e sete meses, bem contadinhos... O médico da caixa disse-me que com a minha saúde eu não podia ficar ali todas as noites de pé até às tantas. E de qualquer maneira, o negócio tava muito mau, muito mau. Agora as pessoas já só comem desses hamburguers e bebem coca-colas... Os velhos que ainda ligam à bifana e ao copo de 3 já morreram quase todos...
Fica-se com uma reforma de miséria, é o que é... Às vezes o meu irmão empresta-me dinheiro quando vem cá e eu passo umas noites numa pensão da Almirante Reis. Tirando isso vou ficando com os meus caixotes de cartão à entrada de Sta. Apolónia. Depois dou umas voltas por aí, que não gosto de estar parado o dia todo. E vou vendo as pessoas a passarem.
Gosto de vir aqui para estas arcadas. Ajeito o boné na cabeça e vou olhando à esquerda à direita. Do lado de lá vejo muitos políticos, daqueles da televisão, ministros e isso. E as pessoas que vão e vêm dos barcos. Deste lado é mais calmo. Agora está aqui esta coisa do turismo com um nome em estrangeiro, uélcome qualquer coisa, e vejo muitos cámones e espanhóis... é assim... Vou vendo as pessoas a passarem... E reparo nas coisinhas de cada uma. Aquela senhora de saia branca, por exemplos, levava um saco da Pollux com uns novelos de lã e ali à entrada está um turista a tirar fotografias. Ou se calhar não é turista, que isto há muita gente que mora cá e gosta desta cidade. Ele realmente não tem cara de estrangeiro...

Jorge Moniz às 23:10 |