(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



morder
o passado

 
<< hoje



e-mail

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sexta-feira, julho 30, 2004


Às vezes...
... abraço-te com tanta força, que não precisamos fechar os olhos para não ver o que nos rodeia, os meus dedos no teu cabelo apagam o tempo e as palavras que dizemos são tão simples que são tudo.

Jorge Moniz às 23:50 |



Em voz baixa às 4 da manhã
- Escreve-me uma carta.
- Uma carta? Para quê?
- Para me dizeres coisas bonitas.
- Mas eu digo-te coisas bonitas ao ouvido.
- Pois dizes, mas é diferente, é para quando não estamos juntos.
- Mas eu também te digo coisas bonitas ao telefone...
- Chato, pá! Já ouviste falar de telefonemas de amor? Não, pois não? Só há cartas de amor.
- Hummm... e sms de amor? Também há!
- Mas são curtinhas e eu não gosto dos k e das outras abreviaturas.
- Está bem, mas olha que eu tenho pouco jeito para escrever, vai sair ridícula...
- E depois? É assim mesmo que se querem as cartas, já dizia uma pessoa qualquer.
- Pronto, pronto, vou pensar nisso... Olha: pode ser um post?

Jorge Moniz às 21:53 |



quarta-feira, julho 28, 2004


"Porra, queimei-me!"
Foi o momento alto dos telejornais, quando uma jornalista da SIC fugia com o operador de câmara, salpicados por fagulhas de um incêndio.
A expressão é não só reveladora da situação que se tem vivido nos últimos dias, mas também do tratamento "jornalístico" que é feito.

Jorge Moniz às 21:47 |



terça-feira, julho 27, 2004


Há quanto tempo eu não via este filme...

Loving goes by haps: some Cupid kills with arrows, some with traps.

Jorge Moniz às 23:48 |




Há alturas em que ter um leitor de CD duplo dá muito jeito, porque por estes dias são dois os CD's em repeat mode, sem conseguir optar por um deles: a Adriana Partimpim e o Rodrigo Leão. Sons frescos para noites quentes...

(que frase pirosa, vou-me desculpar com os efeitos do calor no cérebro!)

Jorge Moniz às 12:33 |



segunda-feira, julho 26, 2004


Algum perito em simbologia, por favor...
...me poderá informar sobre o eventual significado de um pato branco a atravessar a auto-estrada, numa manhã quente de céu castanho, sem esboçar um esforço de testar as asas para fugir do trânsito e serem os carros a desviar-se?

Jorge Moniz às 12:11 |



Adoro...
... quando por instantes páro de te beijar, deixando os lábios à flor dos teus, até abrires ligeiramente essas janelas verdes e esboçares lentamente esse sorriso brincalhão.

Jorge Moniz às 12:05 |



sexta-feira, julho 23, 2004


As coisas em que se pode tropeçar ao fazer zapping na auto-estrada

Telepatia
Silêncio calma
Feitiçaria
Da tua alma
Passo a passo
Sem ter medo
Abrimos, soltámos
O nosso segredo

E a sorrir
Devorámos o mundo
Num abraço
Tão profundo

(...)

Ana Zanatti/Nuno Rodrigues

Jorge Moniz às 22:55 |



quinta-feira, julho 22, 2004



(...)
Mordidas mansas, emoções
suspiros densos, afagares
liberto das definições
o amor define os seus lugares
ilhas desertas até ver
ver o sol, a chuva
o arco do corpo
arco-íris, corpo a corpo
cara a cara, cor a cor
incandescendo o olhar

(...)

Sérgio Godinho

Jorge Moniz às 14:56 |



A gente sabe que ele vai ser eleito daqui a instantes...
... mas estou-me a divertir imenso com a antecipação!

"Ele está ao nível de George W. Bush"

Jorge Moniz às 11:37 |



Hummm...
...mais um quarto de hora, ou nem tanto...

Jorge Moniz às 00:58 |



quarta-feira, julho 21, 2004


À mesa
Já estou aqui sentada há alguns minutos, cada um deles verificado no relógio. Onde é que já se viu, ser eu a esperar? Vou-me entretendo a olhar para o infinito. Não quero olhar para a estrada, onde todos os carros da cor do dele me parecem da marca do dele e todos os da marca do dele me parecem da cor do dele. É melhor olhar para o infinito, tentar decidir quando o azul passa a verde e o verde a azul, talvez isso me tranquilize. Não posso estar nervosa. Não posso estar nervosa. Não posso estar nervosa. Mas já sei que vou estar, é inevitável. Já sei que vou corar, que as minhas mãos vão tremer, que vou desviar os olhos para não me sentir tão incomodada. Já sei que vou perder muito tempo a ler a ementa. E tudo isso não é normal. Respirar fundo. Dizem que ajuda a acalmar mas a mim parece-me o maior disparate. Deve ser apenas psicológico, porque na realidade ao respirar fundo eu vou apenas notar melhor a velocidade das pulsações. Gostava que já fosse daqui a uma hora. Quando já se tivessem quebrado todas as barreiras, já nos ríssemos à vontade e lembrássemos todas as histórias, todas as razões que nos têm mantido longe. Mas não há volta a dar-lhe, os próximos minutos vão ter de ser vividos, faz parte. Uma mão no ombro. Olá pai.

Jorge Moniz às 14:17 |



terça-feira, julho 20, 2004


Eles voltaram!
(diariamente na 2: às 20:30)

Jorge Moniz às 21:48 |



domingo, julho 18, 2004


Laranja
Foi daquelas vezes em que resolvemos ir ver o nascer-do-sol antes de o cansaço ser sono. É sempre uma decisão difícil, são cinco ou seis ou sete da manhã e de peles coladas vamos soltando frases incompletas em voz baixa. De repente a ideia aparece, sugerida pelo céu azul cada vez menos escuro que entra pela janela. Olhamo-nos, percebemo-nos e um lá tenta convencer o outro a tomarmos um duche, a vestirmo-nos, a pegar na chave do carro e num pacote de queijadas ou pastéis ou bolachas ou bolos, o que houver. Depois chegamos à marginal, sentamo-nos num muro qualquer à beira-mar e ficamos a olhar para a ponte em fundo laranja. Quase em silêncio. Apenas ouvimos o mar, um carro que passa, o barulho do plástico e as nossas bocas a mastigar. Tu, que gostas de inventar palavras novas e frases estranhas, naquela quase manhã soltaste a tua gargalhada curta, olhaste para mim e disseste convicta: "Eu somos."

Jorge Moniz às 20:08 |



sábado, julho 17, 2004


Ainda ontem...

...largaste a chupeta e fazias xixi na cama, não gostavas de sopa, apanhavas o autocarro do Sr. Manel para a creche, ficavas contente quando recebias de troco na loja mais moedas do que tinhas dado, ias ficando para sempre num precipício e no fundo do mar, te partias a rir com o Balki e choravas com a Candy, rabiscavas a lápis ou caneta os livros dos outros, fazias birras descomunais e o ginete e a filoxera, não gostavas de Lisboa apenas para ser do contra (como em muitas outras coisas). Ainda ontem fazias bolas nos is...








("espécie de fotografia" feita com o truque aprendido aqui)

Jorge Moniz às 12:08 |



quinta-feira, julho 15, 2004


Facto
Por motivos não directamente relacionados comigo, hoje, quase dois meses e meio depois, é que me caiu o meu último aniversário em cima.

Jorge Moniz às 23:10 |




Há pessoas tão obcecadas pelo trabalho que chegam a confundir isto com um telefone. 
  
  
  
  
 

Jorge Moniz às 22:45 |




A propósito da ideia brilhante da descentralização dos ministérios, leia-se esta.

Jorge Moniz às 14:42 |



Provérbios incompatíveis III

Quem espera sempre alcança.

Quem muito espera desespera.

Jorge Moniz às 13:50 |





Ele há cada coisa que me aparece na caixa do correio...

Jorge Moniz às 13:37 |



Adoro...
..quando passas a manhã inteira pendurada no meu pescoço.

Jorge Moniz às 07:22 |



Provérbios incompatíveis II

Quem não arrisca não petisca.

Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguem.

Jorge Moniz às 07:11 |



Provérbios incompatíveis I

Não há duas sem três.

À terceira é de vez.

Jorge Moniz às 07:10 |



quarta-feira, julho 14, 2004



Queres que eu admita? Não tenho problema nenhum. Nunca tento esconder o que sinto. Sim, foi muito bom voltar a encontrar-te ao fim de todo este tempo. Para mais na praia, na mesma praia. E com o sol de fim de tarde a dar-nos aquele brilho aos olhos. Tu a levantares os teus do livro e o cinzento voltar a ser azul quando me sorriste. Olá.
(tanta pergunta a fazer e tanta resposta a recordar numa palavra tão pequena)
Olá.
Depois perdemo-nos naqueles quinze minutos de conversa educada, onde trabalhas, onde moras, o preço das casas... E eu cá dentro a alta velocidade, tentando lembrar-me se fazias parte das que casaram entretanto ou não, tentando olhar discretamente para a tua mão esquerda, ela escondida atrás da direita
(de propósito?)
e tu a fazer o mesmo
(ou impressão minha?)
e nós quase ao mesmo tempo a fazer a mesma pergunta em tom de brincadeira, então já tens filhos, como quem quer perguntar outra coisa. Não, continuo solteiro. Também não, estive casada mas foi só um ano e meio. E depois a desviarmos a conversa enquanto não voltamos a ter intimidade para falar destas coisas. Que livro estavas a ler?
(é sempre um bom início de tema)
Dos livros passamos aos filmes. Dos filmes passamos às viagens. Vai seguindo a conversa inócua à medida que o espaço que partilhamos vai ficando mais confortável.

Amanhã à mesma hora na mesma toalha?

(sabes, ainda me lembrava da forma dos teus dedos e das tuas unhas [cortadas à sexta-feira porque só nos víamos ao fim-de-semana e as minhas costas já estavam demasiado sulcadas]...)

Jorge Moniz às 22:02 |



Terra Brasilis (Trindade)

O acesso a Trindade está hoje em dia, para o bem e para o mal, facilitado, pois já existe estrada asfaltada quase até à aldeia. Na época colonial, Trindade era habitada por índios, recebendo de vez em quando a visita de piratas franceses que ali se escondiam antes de atacar os navios portugueses que, carregados de ouro, saíam de Paraty, no outro lado da península. É crença popular que haverá por ali restos de tesouros da época, enterrados no meio do mato, embora não haja a certeza de algum ter sido encontrado. Um dos locais onde haveria esses tesouros é hoje chamado Cachadaço, palavra que diz tudo.

Trindade tornou-se depois numa pequena aldeia de pescadores com casas de madeira e telhados de sapé seco, sem qualquer laivo de modernidade. Este carácter rústico atraiu para ali a comunidade hippie que se aliou aos pescadores quando houve que defender a aldeia da especulação imobiliária que nos anos 70 devorou as redondezas (o caso das Laranjeiras, por exemplo, onde os milionários apenas chegam de helicóptero). O que nos traz de volta aos acessos. Ainda hoje é necessário subir um íngreme monte antes de uma difícil descida apelidada de ?Deus me livre?. O nome terá sido dado naturalmente pelos habitantes ao tentar fazer o sentido inverso. Quando chove abundantemente a estrada enche-se de lama e é literalmente impossível sair de Trindade de carro.

Infelizmente não pude conhecer a Trindade de há alguns anos. Agora há casas de alvenaria, a rede telefónica tinha sido instalada dois meses antes da minha visita e algumas das lojas que vi não existiam meio ano antes. Quando M. construiu ali a sua casa (de madeira) em 1993, apenas havia electricidade na rua principal. A água para a sua casa vem por uma canalização por si montada desde uma cachoeira a 300 m de altitude. No jardim é necessário ter uma torneira sempre aberta para a pressão da água não rebentar braçadeiras pelo caminho.

Jorge Moniz às 14:07 |



terça-feira, julho 13, 2004


Terra Brasilis (Paraty)

O tempo no Rio de Janeiro durante o Verão caracteriza-se normalmente por dias que amanhecem muito quentes, aquecem mais na hora do almoço e, devido à forte humidade, resultam ao fim da tarde em fortes aguaceiros. O Verão 2001/2002 foi um pouco atípico. Supostamente devido ao El Niño que se aproximava, havia umas frentes frias que subiam desde a Argentina e arrefeciam o tempo para uns cómodos 20 ºC. O inconveniente era a chuva miúda permanente.

Por isso, naquele sábado de manhã, mesmo com o que chovia, decidi aceitar o convite de M. e fazer-me ao caminho para um fim-de-semana na sua casa de praia. O caminho que o autocarro seguiu junto à costa em direcção a sudoeste não era em auto-estrada e por várias vezes, ainda em zona relativamente urbana, o motorista teve de fazer travagens bruscas por causa da travessia de algum pedestre, ciclista, ou mesmo uma vaca.

A viagem começou a ser interessante na zona de Mangaratiba, quando a estrada passa a acompanhar o recorte da costa, com subidas e descidas e agradáveis vistas para enseadas e ilhas de mata atlântica (estas últimas à venda a partir de meros 30 mil contos, ver anúncios no Globo). De seguida, uma central nuclear surpreende na paisagem, mesmo sem possuir as famosas torres de refrigeração pelas quais são afamadas. Nos quilómetros envolventes existem vários aldeamentos para os funcionários, construídos mesmo junto ao mar.

Quatro horas depois de ter saído, cheguei a Paraty. Trata-se de uma cidade colonial de onde embarcava o ouro, e depois o café, para Portugal, depois de descer o Caminho do Ouro desde Ouro Preto em Minas Gerais. Aberto no fim do século XVll sobre uma antiga trilha dos índios Guaianás, o Caminho do Ouro são 1200 km de estrada calçada com pedras, muitos dos quais hoje já estão destruídos ou cobertos pela mata.

O centro de Paraty está protegido, mantendo a arquitectura do século XIX. Nalgumas coisas, como nas cores, faz lembrar Óbidos, mas há lago nas varandas que eu nunca vi em Portugal (haverá porventura, mas não conheço): candeeiros com campânula de vidro, às vezes decorados com abacaxis de imitação! A maçonaria deixou a sua forte marca nas fachadas com desenhos geométricos, em relevo. Do porto de Paraty, nada atraente e cheio de lama, saem diversos passeios em escunas e outros barcos para as ilhas mais próximas. As ruas pedonais estão preenchidas com lojas para turistas, sejam restaurantes, lojas de artesanato, ou de roupa (com as infalíveis t-shirts alusivas à cidade). Aqui e ali encontram-se pintores reproduzindo troços das ruas mais pitorescas. Existem algumas igrejas, muito simples no exterior, mas interessantes por dentro.

Jorge Moniz às 22:29 |



Terra Brasilis (a política)

Perante estes escândalos os políticos surgem com medidas hilariantes. O Governador de S. Paulo, por exemplo, tentou acabar com a venda de telemóveis pré-pagos, por não ser possível à polícia identificar os autores das chamadas. Aliás a maioria dos políticos não tem a mínima formação para os cargos. É necessário serem já conhecidos do público por qualquer outra razão antes de se candidatarem por qualquer partido (do qual mudam mais depressa do que de roupa). Garotinho, na altura o Governador do Estado do Rio de Janeiro, vinha de uma carreira de apresentador de rádio e de televisão. E mantinha um programa de rádio ao sábado de manhã, onde entrevistava deputados municipais e prefeitos das cidades do Estado. As conversas enchiam-se de números dos investimentos e de palmadinhas nas costas de parte a parte. O principal passatempo do Governador era manter a guerra com o Prefeito do Rio, César Maia. Cada um culpava o outro de tudo o que corria mal e enchiam as suas obras, hospitais, etc. de cartazes onde informavam: ?Esta obra é da Prefeitura?, ou ?Esta obra é do Governo do Estado?. A poluição na Lagoa Rodrigo de Freitas era um dos bombos da festa: a Prefeitura, responsável pela limpeza urbana, acusava o Governo, responsável pelo saneamento, de libertar esgotos na Lagoa. O Governo negava e a Prefeitura gastava dinheiro a instalar um sistema de monitorização contínuo da poluição nas águas da Lagoa.

Nesta altura de pré-campanha presidencial, início de 2002, o eterno (pensava-se) candidato presidencial do Partido dos Trabalhadores, Lula da Silva, escandalizou muita gente ao entrar em negociações para obter o apoio do Partido Liberal, dominado pela IURD.

Alguns pormenores da política brasileira parecem-me remanescentes de uma transição gradual e recente da ditadura para a democracia. Na televisão os tempos de antena são simultâneos em todos os canais abertos. E na rádio existe a Voz do Brasil. É um programa emitido por todas as estações entre as 18 e as 19h, que basicamente lembra os noticiários políticos em Portugal antes do 25 de Abril: hoje o Presidente foi a tal sítio e disse isto e aquilo. Está dividido entre notícias da Presidência, dos Ministérios da Fazenda, da Saúde, da Educação, da Agricultura, etc., com uma qualidade sonora de onda média e locutores com vozes dos anos 60. Naturalmente que a esmagadora maioria dos brasileiros desliga o rádio das 18 às 19 h.

Jorge Moniz às 12:45 |



segunda-feira, julho 12, 2004


Terra Brasilis (a segurança)

A primeira causa de morte no Brasil são as doenças do sistema circulatório. A segunda são os homicídios. No Rio de Janeiro são mortas anualmente 36 pessoas em cada 100 000, por comparação com 8 em New York ou 1 em Londres. As 6 detenções diárias na cidade obviamente não dão conta das ocorrências. Aliás, apenas 10 % dos casos de homicídio chegam a ser esclarecidos. É estranho, mas é verdade. Não há um caso de violência com destaque na comunicação social que não fique enrolado em contradições e polémicas durante muito tempo.

A corrupção na polícia, especialmente na polícia militar, muito mal paga, contribui para a manutenção da violência. Um em cada dez polícias está sob investigação, mas constitucionalmente não podem ser afastados da função pública. Isto leva a que nenhum criminoso tenha medo de ser preso. Só cumpre a pena na totalidade se quiser. Há fugas para todos os gostos, mesmo nas prisões de alta segurança. Numa delas um condenado foi visitado pela ex-mulher que lhe comunicou estar grávida de outro homem. Minutos depois estava enforcada no cinto do seu ex-marido. Dentro de uma cela numa prisão de alta segurança.

A economia paralela dos gangs não exclui de forma nenhuma as prisões. Numa em S. Paulo estima-se que sejam movimentados 5 milhões de reais por mês. A polícia e os políticos descobriram que os telemóveis são uma ferramenta muito utilizada pelos prisioneiros e estavam nesta altura a ser instalados nalgumas prisões aparelhos electrónicos que bloqueiam a recepção de rede de telemóveis. Não, não é mais fácil confiar na revista das visitas aos detidos para impedir a entrada dos telemóveis. A corrupção dos guardas prisionais é bastante elevada.

Também é impressionante a facilidade com que se cometem crimes violentos. No final do ano de 2001, o Presidente Fernando Henrique Cardoso anunciou uma baixa de 20 % no preço da gasolina à saída da Petrobrás, que se deveria converter a curto prazo numa diminuição semelhante para o consumidor. Nos dias seguintes a gasolina nos postos não baixou, porque os vendedores alegavam que nos reservatórios ainda tinham combustível comprado ao preço mais elevado. Mas mais tarde, enquanto numas cidades o preço já tinha baixado, noutras mantinha-se. Começou-se a desconfiar de existência de um cartel entre as gasolineiras. O escândalo rebentou com a Globo a divulgar conversas telefónicas entre responsáveis de gasolineiras em que combinavam preços. A partir daí, a polícia colocou então um procurador a chefiar a investigação do caso. Semanas depois é morto. E não passou muito tempo até se descobrir o assassino: um polícia que confessou ter sido contratado pelas gasolineiras.

Jorge Moniz às 23:07 |



Terra Brasilis (o emprego)

O Carnaval é apenas o sintoma mais visível da forma como a sociedade brasileira não se preocupa muito com os seus problemas de violência e de desigualdade. Mesmo fora desta época quase não se vêem manifestações ou greves. O optimismo natural e a religiosidade do brasileiro levam-no a confiar no destino, ou em Deus, ou em Iemanjá, ou em Nossa Senhora de Fátima e tudo se há-de resolver.

A tão falada integração racial que existe no Brasil, traduz-se em que há pobreza de todas as cores. Mas vêem-se tantos negros a estudar na universidade, como brancos a conduzir autocarros. O elevado desemprego impede que se aumente a produtividade em certos ramos do trabalho. Precisamente nos autocarros há motorista e cobrador, sem qualquer sistema de passe: cada passageiro paga a sua viagem em dinheiro vivo (R$1,1 em 2002) de cada vez que entra no autocarro. Tendo em conta que o ordenado mínimo era de R$180 (cerca de 18 contos à época), se uma pessoa precisar de apanhar dois autocarros para o trabalho, gasta logo meio ordenado em transportes. A implementação do passe social e das máquinas para picar bilhetes pré-comprados junto ao motorista com certeza baixariam o preço das viagens, mas de cada vez que se fala nisso vêm os milhares de cobradores agitar o fantasma do desemprego.

Nos prédios de habitação, por exemplo, há vários porteiros a trabalhar em simultâneo, porque podem sempre chegar vários moradores ao mesmo tempo a precisar de lhes entregarem as chaves dos carros para arrumar... O efeito colateral desta profissão, assim como de quaisquer seguranças em locais fixos, é o sucesso de vendas das televisões portáteis.

O parquímetro é uma profissão. Em vez dos aparelhos que bem conhecemos, está um cavalheiro sentado numa cadeira de praia o dia inteiro entre os carros estacionados. Quando chega alguém, dirige-se-lhe e paga o devido recebendo o papelito para pôr no tablier.

Até mesmo nalgumas movimentadas passadeiras para peões junto de centros comerciais estão vários funcionários com aspecto de polícias sinaleiros a controlar ao som de apito os tráfegos de peões e automóveis. Caso contrário, bem que o peão podia esperar que um carro parasse na passadeira...

Jorge Moniz às 15:13 |



domingo, julho 11, 2004


Terra Brasilis (ainda o Carnaval)

Nesta época tudo muda no Rio. Muitos cariocas saem para uns dias de férias noutro lado. Só para Búzios e a região dos lagos vão uns 300 000 carros, todos atravessando a ponte Rio-Niterói e provocando engarrafamentos gigantescos (aliás esta cidade de mais de 5 milhões de habitantes tem apenas três saídas por auto-estrada: para os lagos, para a região serrana em direcção a Belo Horizonte e para São Paulo). Em Copacabana a "fauna" muda completamente: só se ouve inglês. Seja o dos americanos ou o das prostitutas (nas variedades de mulher verdadeira e mulher só na roupa e maquilhagem) que os assediam e vice-versa. Ipanema está mais abrigada destas actividades e apenas dei pela presença de alguns portugueses e franceses.

Mais do que no Natal, tudo pára. É difícil encontrar lojas abertas de sábado à tarde até quarta-feira ao almoço, restaurantes incluídos. Qualquer assunto que seja preciso tratar tem resposta pronta e infalível:

- Quinta-feira.

E mesmo a quinta e sexta-feira são a meio gás. Os noticiários enchem-se de imagens dos vários carnavais por todo o país e pouco se fala da epidemia de dengue ou dos sequestros em São Paulo. Se forem precisos escândalos para as audiências, também se arranjam no Carnaval propriamente dito, com protestos de Escolas de Samba quanto aos resultados dos vários desfiles.

Jorge Moniz às 22:46 |



Terra Brasilis (o Carnaval)

O mulato dos seus cinquenta anos, pêra, óculos de surfista e panamá branco, marcou logo a sua presença quando entrou no autocarro 175 numa qualquer paragem da Barra da Tijuca. Levantou os dois braços e comunicou aos restantes passageiros que tocava sax e liderava uma Banda de Carnaval em Copacabana. Um pouco mais à frente, quando saímos do Túnel do Joá para o Elevado das Bandeiras, pôs-se de pé, virou-se para o mar e benzeu-se.

Em todo o lado acontece haver um excêntrico que, por exemplo, entra no autocarro e fala para uma assistência involuntária. No Rio de Janeiro é mais frequente e, neste caso em particular, não se resumiu a uma só pessoa, pois um segundo cavalheiro mais velho, e mais negrão, também contribuiu para a festa. Com a diferença de que apenas emitiu uns grunhidos imperceptíveis que julgo nem os brasileiros perceberam e saiu logo depois.

Talvez fossem considerações sobre o efeito da chuva persistente num sábado de Carnaval...

Entretanto o primeiro impacientava-se com as paragens do autocarro e com a entrada de garotos da Rocinha com os seus caixotes de esferovite (ou aliás, isopor), que mais tarde iriam encher de gelo e de latas de cerveja e refrigerantes para vender em qualquer lado onde houvesse sede, por um preço decrescente ao longo do dia. O homem estava atrasado e a banda não podia começar sem ele.

No início de Ipanema, na Praça de Espanha, apontou para um prédio e informou-nos:

- Ali morava o grande Milton Morais! - ou um outro nome parecido com este, confesso a imprecisão - Tomámos muito chop e cachaça juntos!

Virou a cabeça para o outro lado, para a janela mais perto de si e olhando para o céu concluiu:

- Tá vendo? Cê tá morto e eu inda tô falando de você!

Jorge Moniz às 14:18 |



sábado, julho 10, 2004


Irra!
Há dias em que da ideia à frase não há caminho que se encontre. Só sai asneira. Estas linhas em baixo que o digam!

Jorge Moniz às 22:09 |



Penso
Enterrado neste buraco, longe da luz, penso. Penso no que faço, no que digo, no que sinto, no que penso. Penso no que penso. E penso no que fiz, e no que disse, e no que senti, e no que pensei. Penso no que pensei. Nas opções, nas decisões, nas omissões, nas conclusões.
Depois,
discretamente, ergo um periscópio e espreito lá fora. Lá em cima. A luz ofusca-me. Eles ofuscam-me. Silenciosamente espreito. Vejo eu ser indiferente aos que vejo. Ninguém me vê aqui. E ninguém sabe o que eu penso.

Jorge Moniz às 21:51 |



Duas das melhores frases saídas da noite

curiosamente, quer-me parecer que há mais gente contente do que triste com a decisão no PS e mais gente triste do que contente com a decisão no PSD

Que tipo de pessoa chora quando está a condecorar jogadores de futebol mas não verte uma única lágrima quando condena dez milhões de almas a serem governadas por Santana Lopes?

Jorge Moniz às 14:41 |




Informo os estimados leitores que passei a acreditar na astrologia.

(e já estou como a Catarina, esta era de morrer a rir!)

Jorge Moniz às 14:25 |



quinta-feira, julho 08, 2004



Passem por aqui, há lá um canto com uma sondagem e façam o que têm a fazer.

Jorge Moniz às 21:26 |



Vá!
Todos a ficar inchados com esta revista de imprensa internacional.

Jorge Moniz às 12:49 |



quarta-feira, julho 07, 2004


Adoro...
... ver-te corar quando te olho nos olhos mais do que quatro segundos.

(e depois, envergonhada, esconderes a cabeça debaixo da almofada)

Jorge Moniz às 23:45 |



De facto...
... as eleições são uma chatice para a economia... A democracia, essa maçada...

Jorge Moniz às 21:14 |



Sobre o prestígio de ter um Presidente da Comissão Europeia
Jacques Delors não fez muito pelo prestígio da França, porque já era um país grande e não precisava. Romano Prodi não fez muito pelo prestígio da Itália porque já era um país grande e não precisava. Mas Jacques Santer deve ter feito muito pelo prestígio da....... de...... do....... Luxemburgo, é isso!

Jorge Moniz às 14:02 |



terça-feira, julho 06, 2004


A frase mais citada do dia

Não vamos obrigar as pessoas a aturar outra campanha: os pais a levarem os filhos à escola e darem de caras com a minha cara e com a do dr. Ferro Rodrigues.

Pedro Santana Lopes

Jorge Moniz às 14:25 |



segunda-feira, julho 05, 2004


E agora todos em coro!

Jorge Moniz às 21:51 |



Espero que não leias isto...
...porque amanhã,
(assim pelo fim da madrugada)
eu vou acordar uns minutos antes do teu despertador. E vou deslizar até me encostar às tuas costas. E o meu braço vai dar-te a volta à cintura como um cadeado de que não sabes a combinação. E com a boca sussurrada ao teu ouvido vou informar-te que não vais a lado nenhum.
(tu vais dizer apenas uns monossílabos imperceptíveis com essa voz de quem acaba de acordar...)
Depois vou puxar-te a gola da t-shirt para te descobrir o ombro e reclamá-lo meu, propriedade dos meus lábios.
(mas tudo isto é segredo, espero que não leias...)

Jorge Moniz às 16:40 |



Nesta ressaca do Euro...
...no meio de tantas análises sobre o que foi e o que vai restar do ânimo nacional, há um detalhe importante que não tem sido abordado: o que será de nós sem a Tânia Ribas diariamente na televisão...?

Jorge Moniz às 16:11 |



domingo, julho 04, 2004


No início eram os...
ser                  viver                  estar
              respirar        ver          ouvir
cantar                dançar                    correr
    pular      saltar                berrar
            gritar        sorrir                      ler
comer          rir                    olhar
      tocar        dormir                  baloiçar
                  nadar            mergulhar            gostar

Jorge Moniz às 15:02 |



Por falar nisso...
... se ainda fôssemos uma monarquia, hoje ia ser um bocado chato.

Jorge Moniz às 11:44 |



Momento de publicidade gratuita



Digam lá se não são as mesmas cores daquele quadro que está ali para baixo?

Jorge Moniz às 11:07 |



Espectáculo

Quando
tu me vires no futebol
estarei no campo
cabeça ao sol
a avançar pé ante pé
para uma bola que está
à espera dum pontapé
à espera dum penalty
que eu vou transformar para ti
eu vou
atirar para ganhar
vou rematar
e o golo que eu fizer
ficará sempre na rede
a libertar-nos da sede
não me olhes só da bancada lateral
desce-me essa escada e vem deitar-te na grama
vem falar comigo como gente que se ama
e até não se poder mais
vamos jogar


Sérgio Godinho

Jorge Moniz às 10:37 |



sábado, julho 03, 2004


Sophia

Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!


Jorge Moniz às 11:24 |



sexta-feira, julho 02, 2004



Vamos ajudar o Jorge a decidir.

Jorge Moniz às 22:46 |



Triângulos amorosos
Há casos em que parece funcionar. Vi vários recentemente. Têm no entanto uma curiosa particularidade: um dos membros é um cão e é essencial a utilização de uma bola de ténis. Passo a explicar: casal humano passa dia na praia acompanhado do seu cão. Um deles atira a bola de ténis para longe, o cão vai buscá-la e devolve-a não a quem a atirou, mas ao outro membro do casal. Este por sua vez atira a bola, o cão vai buscá-la e entrega-a ao primeiro. Não falha. Tenho assistido à cena várias vezes com pessoas diferentes.
A ideia permite até o requinte de adaptar a bola de ténis para incluir pequenos pedaços de papel no seu interior e assim trocar uma espécie de sms artesanais, com aquelas palavras que por vezes dá mais gozo ler ou escrever do que ouvir ou dizer.

Jorge Moniz às 12:56 |



Thierry Ardisson entrevista Vanessa Paradis...
...e tenta convencê-la a dizer mal do marido. Ela, já com menos cara de menina e com um espaço menor entre os dentes, responde com a ideia clássica e as palavras clássicas: "No meu marido eu amo até os defeitos."
Logo de seguida faz o corolário da mesma ideia, mas de uma forma mais original: "Ele é perfeito porque é imperfeito."

Jorge Moniz às 12:54 |



Infância
A menina dos seus cinco ou seis anos (com calções cor-de-rosa) brinca na areia molhada. Baixa-se de cócoras, fecha todos os dedos da mão direita menos o indicador e com este desenha na areia uma curva pela esquerda e depois outra curva pela direita. Os pontos iniciais e finais de cada curva tocam-se - é um coração. A menina contempla o resultado durante dois ou três segundos, depois abre rapidamente todos os dedos e com a mão inteira apaga num rasgo o que acabou de desenhar. Ficam umas marcas ténues na areia (ficam sempre) e ela corre uns metros à frente. Baixa-se de joelhos, recolhe os dedos todos da mão direita excepto o fura-bolos e com ele desenha na areia um coração. A menina olha para a figura durante dois ou três segundos, depois estica a mão inteira e desfaz num ápice o que acabou de desenhar. Ficam umas marcas ténues na areia (ficam sempre). A menina não desiste e continua a desenhar e a apagar corações. E eu estou quase para lhe chegar ao pé e dizer-lhe que a perfeição não existe, dizer-lhe para não ser utópica, dizer-lhe para não querer mais do que é possível. Mas ela tem cinco ou seis anos e não ia perceber nada da minha conversa.

(fica no entanto aqui o aviso a todos os meus leitores com cinco ou seis anos (e calções cor-de-rosa ou azuis) que se venham a cruzar com ela daqui a muitos anos: tenham cuidado - pode ser daquelas que se apaixonam e desapaixonam enquanto a mão esfrega a areia; e será preciso esperar até ela um dia não abrir a mão para apagar os rabiscos que vai fazendo)

Jorge Moniz às 11:45 |



quinta-feira, julho 01, 2004


Era uma vez... (parte IV)
... um rei da ilha da Bretanha que dava pelo nome de Emrys. Para governar as suas terras com justeza, esse rei contava com o apoio inestimável do seu irmão Uther e do mago Merlin, que sabia tudo do passado e algumas coisas do futuro. Certa vez os saxões tentaram invadir a ilha pela planície de Salisbury, tendo sido detidos pelos valorosos soldados bretões, à custa, no entanto da morte do rei Emrys.
Merlin aconselhou então o novo rei Uther Pendragon a construir no local da morte do irmão um monumento digno de um dos maiores homens deste mundo. E mais lhe disse para procurar na vizinha ilha da Irlanda a montanha de Killara, onde poderiam encontrar pedras dotadas de místicos poderes e maiores do que a força humana pode transportar, uma vez que para ali tinham sido levadas de África por gigantes.
Foi então preparada a expedição e, de facto, quer para retirar as pedras da montanha, quer para as colocar nos barcos, quer para as desembarcar e transportar até à planície de Salisbury, ao local exacto onde Emrys tinha sido morto, foi necessário recorrer aos poderes mágicos de Merlin.
Quando o rei Uther chegou ao local, viu um círculo de pedras de magnífico efeito, no centro do qual se encontrava um rochedo que recebia os raios do sol nascente. E Merlin disse-lhe que aquele monumento seria a memória do seu irmão, mas que lhe chamariam a Dança dos Gigantes e que os espíritos viriam ali todas as noites esperar a luz da manhã.

Ainda hoje se discute se esta estrutura existente em Stonehenge é um monumento fúnebre (ideia apoiada pela existência de túmulos em seu redor) ou um monumento solar (uma vez que o referido efeito da luz da manhã que toca na pedra central se verifica no solstício de verão). Mais informações históricas aqui.

(adaptado de Jean Markale, La naissance du roi Arthur)

Jorge Moniz às 23:21 |



De madrugada...
Acordo a teu lado... Abro os olhos e vejo... Vejo o ombro que dorme... Vejo o pescoço que me chama... Vejo o cabelo que cresce... Vejo os meus dedos que desaparecem na tua nuca... Como quem diz bom dia.

Jorge Moniz às 00:27 |