domingo, julho 18, 2004
Laranja
Foi daquelas vezes em que resolvemos ir ver o nascer-do-sol antes de o cansaço ser sono. É sempre uma decisão difícil, são cinco ou seis ou sete da manhã e de peles coladas vamos soltando frases incompletas em voz baixa. De repente a ideia aparece, sugerida pelo céu azul cada vez menos escuro que entra pela janela. Olhamo-nos, percebemo-nos e um lá tenta convencer o outro a tomarmos um duche, a vestirmo-nos, a pegar na chave do carro e num pacote de queijadas ou pastéis ou bolachas ou bolos, o que houver. Depois chegamos à marginal, sentamo-nos num muro qualquer à beira-mar e ficamos a olhar para a ponte em fundo laranja. Quase em silêncio. Apenas ouvimos o mar, um carro que passa, o barulho do plástico e as nossas bocas a mastigar. Tu, que gostas de inventar palavras novas e frases estranhas, naquela quase manhã soltaste a tua gargalhada curta, olhaste para mim e disseste convicta: "Eu somos."
Jorge Moniz às 20:08 |
|