(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



morder
o passado

 
<< hoje



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domingo, julho 18, 2004


Laranja
Foi daquelas vezes em que resolvemos ir ver o nascer-do-sol antes de o cansaço ser sono. É sempre uma decisão difícil, são cinco ou seis ou sete da manhã e de peles coladas vamos soltando frases incompletas em voz baixa. De repente a ideia aparece, sugerida pelo céu azul cada vez menos escuro que entra pela janela. Olhamo-nos, percebemo-nos e um lá tenta convencer o outro a tomarmos um duche, a vestirmo-nos, a pegar na chave do carro e num pacote de queijadas ou pastéis ou bolachas ou bolos, o que houver. Depois chegamos à marginal, sentamo-nos num muro qualquer à beira-mar e ficamos a olhar para a ponte em fundo laranja. Quase em silêncio. Apenas ouvimos o mar, um carro que passa, o barulho do plástico e as nossas bocas a mastigar. Tu, que gostas de inventar palavras novas e frases estranhas, naquela quase manhã soltaste a tua gargalhada curta, olhaste para mim e disseste convicta: "Eu somos."

Jorge Moniz às 20:08 |