(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



morder
o passado

 
<< hoje



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quarta-feira, julho 21, 2004


À mesa
Já estou aqui sentada há alguns minutos, cada um deles verificado no relógio. Onde é que já se viu, ser eu a esperar? Vou-me entretendo a olhar para o infinito. Não quero olhar para a estrada, onde todos os carros da cor do dele me parecem da marca do dele e todos os da marca do dele me parecem da cor do dele. É melhor olhar para o infinito, tentar decidir quando o azul passa a verde e o verde a azul, talvez isso me tranquilize. Não posso estar nervosa. Não posso estar nervosa. Não posso estar nervosa. Mas já sei que vou estar, é inevitável. Já sei que vou corar, que as minhas mãos vão tremer, que vou desviar os olhos para não me sentir tão incomodada. Já sei que vou perder muito tempo a ler a ementa. E tudo isso não é normal. Respirar fundo. Dizem que ajuda a acalmar mas a mim parece-me o maior disparate. Deve ser apenas psicológico, porque na realidade ao respirar fundo eu vou apenas notar melhor a velocidade das pulsações. Gostava que já fosse daqui a uma hora. Quando já se tivessem quebrado todas as barreiras, já nos ríssemos à vontade e lembrássemos todas as histórias, todas as razões que nos têm mantido longe. Mas não há volta a dar-lhe, os próximos minutos vão ter de ser vividos, faz parte. Uma mão no ombro. Olá pai.

Jorge Moniz às 14:17 |