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quarta-feira, julho 21, 2004
À mesa
Já estou aqui sentada há alguns minutos, cada um deles verificado no relógio. Onde é que já se viu, ser eu a esperar? Vou-me entretendo a olhar para o infinito. Não quero olhar para a estrada, onde todos os carros da cor do dele me parecem da marca do dele e todos os da marca do dele me parecem da cor do dele. É melhor olhar para o infinito, tentar decidir quando o azul passa a verde e o verde a azul, talvez isso me tranquilize. Não posso estar nervosa. Não posso estar nervosa. Não posso estar nervosa. Mas já sei que vou estar, é inevitável. Já sei que vou corar, que as minhas mãos vão tremer, que vou desviar os olhos para não me sentir tão incomodada. Já sei que vou perder muito tempo a ler a ementa. E tudo isso não é normal. Respirar fundo. Dizem que ajuda a acalmar mas a mim parece-me o maior disparate. Deve ser apenas psicológico, porque na realidade ao respirar fundo eu vou apenas notar melhor a velocidade das pulsações. Gostava que já fosse daqui a uma hora. Quando já se tivessem quebrado todas as barreiras, já nos ríssemos à vontade e lembrássemos todas as histórias, todas as razões que nos têm mantido longe. Mas não há volta a dar-lhe, os próximos minutos vão ter de ser vividos, faz parte. Uma mão no ombro. Olá pai.
Jorge Moniz às 14:17 |
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