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domingo, julho 11, 2004
Terra Brasilis (o Carnaval)
O mulato dos seus cinquenta anos, pêra, óculos de surfista e panamá branco, marcou logo a sua presença quando entrou no autocarro 175 numa qualquer paragem da Barra da Tijuca. Levantou os dois braços e comunicou aos restantes passageiros que tocava sax e liderava uma Banda de Carnaval em Copacabana. Um pouco mais à frente, quando saímos do Túnel do Joá para o Elevado das Bandeiras, pôs-se de pé, virou-se para o mar e benzeu-se.
Em todo o lado acontece haver um excêntrico que, por exemplo, entra no autocarro e fala para uma assistência involuntária. No Rio de Janeiro é mais frequente e, neste caso em particular, não se resumiu a uma só pessoa, pois um segundo cavalheiro mais velho, e mais negrão, também contribuiu para a festa. Com a diferença de que apenas emitiu uns grunhidos imperceptíveis que julgo nem os brasileiros perceberam e saiu logo depois.
Talvez fossem considerações sobre o efeito da chuva persistente num sábado de Carnaval...
Entretanto o primeiro impacientava-se com as paragens do autocarro e com a entrada de garotos da Rocinha com os seus caixotes de esferovite (ou aliás, isopor), que mais tarde iriam encher de gelo e de latas de cerveja e refrigerantes para vender em qualquer lado onde houvesse sede, por um preço decrescente ao longo do dia. O homem estava atrasado e a banda não podia começar sem ele.
No início de Ipanema, na Praça de Espanha, apontou para um prédio e informou-nos:
- Ali morava o grande Milton Morais! - ou um outro nome parecido com este, confesso a imprecisão - Tomámos muito chop e cachaça juntos!
Virou a cabeça para o outro lado, para a janela mais perto de si e olhando para o céu concluiu:
- Tá vendo? Cê tá morto e eu inda tô falando de você!
Jorge Moniz às 14:18 |
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