(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



morder
o passado

 
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segunda-feira, julho 12, 2004


Terra Brasilis (o emprego)

O Carnaval é apenas o sintoma mais visível da forma como a sociedade brasileira não se preocupa muito com os seus problemas de violência e de desigualdade. Mesmo fora desta época quase não se vêem manifestações ou greves. O optimismo natural e a religiosidade do brasileiro levam-no a confiar no destino, ou em Deus, ou em Iemanjá, ou em Nossa Senhora de Fátima e tudo se há-de resolver.

A tão falada integração racial que existe no Brasil, traduz-se em que há pobreza de todas as cores. Mas vêem-se tantos negros a estudar na universidade, como brancos a conduzir autocarros. O elevado desemprego impede que se aumente a produtividade em certos ramos do trabalho. Precisamente nos autocarros há motorista e cobrador, sem qualquer sistema de passe: cada passageiro paga a sua viagem em dinheiro vivo (R$1,1 em 2002) de cada vez que entra no autocarro. Tendo em conta que o ordenado mínimo era de R$180 (cerca de 18 contos à época), se uma pessoa precisar de apanhar dois autocarros para o trabalho, gasta logo meio ordenado em transportes. A implementação do passe social e das máquinas para picar bilhetes pré-comprados junto ao motorista com certeza baixariam o preço das viagens, mas de cada vez que se fala nisso vêm os milhares de cobradores agitar o fantasma do desemprego.

Nos prédios de habitação, por exemplo, há vários porteiros a trabalhar em simultâneo, porque podem sempre chegar vários moradores ao mesmo tempo a precisar de lhes entregarem as chaves dos carros para arrumar... O efeito colateral desta profissão, assim como de quaisquer seguranças em locais fixos, é o sucesso de vendas das televisões portáteis.

O parquímetro é uma profissão. Em vez dos aparelhos que bem conhecemos, está um cavalheiro sentado numa cadeira de praia o dia inteiro entre os carros estacionados. Quando chega alguém, dirige-se-lhe e paga o devido recebendo o papelito para pôr no tablier.

Até mesmo nalgumas movimentadas passadeiras para peões junto de centros comerciais estão vários funcionários com aspecto de polícias sinaleiros a controlar ao som de apito os tráfegos de peões e automóveis. Caso contrário, bem que o peão podia esperar que um carro parasse na passadeira...

Jorge Moniz às 15:13 |