(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



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o passado

 
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terça-feira, julho 13, 2004


Terra Brasilis (Paraty)

O tempo no Rio de Janeiro durante o Verão caracteriza-se normalmente por dias que amanhecem muito quentes, aquecem mais na hora do almoço e, devido à forte humidade, resultam ao fim da tarde em fortes aguaceiros. O Verão 2001/2002 foi um pouco atípico. Supostamente devido ao El Niño que se aproximava, havia umas frentes frias que subiam desde a Argentina e arrefeciam o tempo para uns cómodos 20 ºC. O inconveniente era a chuva miúda permanente.

Por isso, naquele sábado de manhã, mesmo com o que chovia, decidi aceitar o convite de M. e fazer-me ao caminho para um fim-de-semana na sua casa de praia. O caminho que o autocarro seguiu junto à costa em direcção a sudoeste não era em auto-estrada e por várias vezes, ainda em zona relativamente urbana, o motorista teve de fazer travagens bruscas por causa da travessia de algum pedestre, ciclista, ou mesmo uma vaca.

A viagem começou a ser interessante na zona de Mangaratiba, quando a estrada passa a acompanhar o recorte da costa, com subidas e descidas e agradáveis vistas para enseadas e ilhas de mata atlântica (estas últimas à venda a partir de meros 30 mil contos, ver anúncios no Globo). De seguida, uma central nuclear surpreende na paisagem, mesmo sem possuir as famosas torres de refrigeração pelas quais são afamadas. Nos quilómetros envolventes existem vários aldeamentos para os funcionários, construídos mesmo junto ao mar.

Quatro horas depois de ter saído, cheguei a Paraty. Trata-se de uma cidade colonial de onde embarcava o ouro, e depois o café, para Portugal, depois de descer o Caminho do Ouro desde Ouro Preto em Minas Gerais. Aberto no fim do século XVll sobre uma antiga trilha dos índios Guaianás, o Caminho do Ouro são 1200 km de estrada calçada com pedras, muitos dos quais hoje já estão destruídos ou cobertos pela mata.

O centro de Paraty está protegido, mantendo a arquitectura do século XIX. Nalgumas coisas, como nas cores, faz lembrar Óbidos, mas há lago nas varandas que eu nunca vi em Portugal (haverá porventura, mas não conheço): candeeiros com campânula de vidro, às vezes decorados com abacaxis de imitação! A maçonaria deixou a sua forte marca nas fachadas com desenhos geométricos, em relevo. Do porto de Paraty, nada atraente e cheio de lama, saem diversos passeios em escunas e outros barcos para as ilhas mais próximas. As ruas pedonais estão preenchidas com lojas para turistas, sejam restaurantes, lojas de artesanato, ou de roupa (com as infalíveis t-shirts alusivas à cidade). Aqui e ali encontram-se pintores reproduzindo troços das ruas mais pitorescas. Existem algumas igrejas, muito simples no exterior, mas interessantes por dentro.

Jorge Moniz às 22:29 |