(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



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o passado

 
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quarta-feira, julho 14, 2004


Terra Brasilis (Trindade)

O acesso a Trindade está hoje em dia, para o bem e para o mal, facilitado, pois já existe estrada asfaltada quase até à aldeia. Na época colonial, Trindade era habitada por índios, recebendo de vez em quando a visita de piratas franceses que ali se escondiam antes de atacar os navios portugueses que, carregados de ouro, saíam de Paraty, no outro lado da península. É crença popular que haverá por ali restos de tesouros da época, enterrados no meio do mato, embora não haja a certeza de algum ter sido encontrado. Um dos locais onde haveria esses tesouros é hoje chamado Cachadaço, palavra que diz tudo.

Trindade tornou-se depois numa pequena aldeia de pescadores com casas de madeira e telhados de sapé seco, sem qualquer laivo de modernidade. Este carácter rústico atraiu para ali a comunidade hippie que se aliou aos pescadores quando houve que defender a aldeia da especulação imobiliária que nos anos 70 devorou as redondezas (o caso das Laranjeiras, por exemplo, onde os milionários apenas chegam de helicóptero). O que nos traz de volta aos acessos. Ainda hoje é necessário subir um íngreme monte antes de uma difícil descida apelidada de ?Deus me livre?. O nome terá sido dado naturalmente pelos habitantes ao tentar fazer o sentido inverso. Quando chove abundantemente a estrada enche-se de lama e é literalmente impossível sair de Trindade de carro.

Infelizmente não pude conhecer a Trindade de há alguns anos. Agora há casas de alvenaria, a rede telefónica tinha sido instalada dois meses antes da minha visita e algumas das lojas que vi não existiam meio ano antes. Quando M. construiu ali a sua casa (de madeira) em 1993, apenas havia electricidade na rua principal. A água para a sua casa vem por uma canalização por si montada desde uma cachoeira a 300 m de altitude. No jardim é necessário ter uma torneira sempre aberta para a pressão da água não rebentar braçadeiras pelo caminho.

Jorge Moniz às 14:07 |