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terça-feira, agosto 03, 2004
Frio. Sinto o frio entrar-me nos ossos. Lentamente. Encolho-me mais, abraçando os joelhos. Sentado na areia. Fecho os olhos com força por um instante. O frio continua. Abro os olhos após um instante. O frio continua. À minha frente o meu último fracasso. Deveria ter visto antes ao menos o óbvio. Que o nível da água não chegava para os tapar completamente. E fico assim, com a prova última do meu falhanço diante dos meus olhos. Acaba por ser um símbolo. De que há sempre uma pequena parte das memórias que não nos larga. Que fica sempre visível, sensível. Bem podemos aprender com erros e tentar esquecê-los, viver com eles. Mas uma porção que pode ser mais ou menos incómoda fica sempre connosco. Não há amnésias selectivas. Olho as minhas mãos que tremem e eu já não sei se é do frio. Vejo-as turvas através da água que me atravessa os olhos. Frio. Tremo. Respiro fundo. E tento, por uma vez na vida, ser consequente em algo que faça. Parar de tremer o tempo suficiente para dar algum uso à caçadeira que descansa no meu colo.
Jorge Moniz às 22:52 |
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