(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



morder
o passado

 
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terça-feira, agosto 03, 2004





Frio. Sinto o frio entrar-me nos ossos. Lentamente. Encolho-me mais, abraçando os joelhos. Sentado na areia. Fecho os olhos com força por um instante. O frio continua. Abro os olhos após um instante. O frio continua. À minha frente o meu último fracasso. Deveria ter visto antes ao menos o óbvio. Que o nível da água não chegava para os tapar completamente. E fico assim, com a prova última do meu falhanço diante dos meus olhos. Acaba por ser um símbolo. De que há sempre uma pequena parte das memórias que não nos larga. Que fica sempre visível, sensível. Bem podemos aprender com erros e tentar esquecê-los, viver com eles. Mas uma porção que pode ser mais ou menos incómoda fica sempre connosco. Não há amnésias selectivas. Olho as minhas mãos que tremem e eu já não sei se é do frio. Vejo-as turvas através da água que me atravessa os olhos. Frio. Tremo. Respiro fundo. E tento, por uma vez na vida, ser consequente em algo que faça. Parar de tremer o tempo suficiente para dar algum uso à caçadeira que descansa no meu colo.

Jorge Moniz às 22:52 |