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quinta-feira, setembro 23, 2004
À medida que os livros vão sendo lidos, saltam da pilha vertical da mesa de cabeceira para a confusão horizontal das estantes. A situação está de tal modo complicada que o estacionamento em segunda fila já é quase mais extenso que o regular. Dediquei-me pois a uma lenta arrumação de livros, daquelas em que se pega em cada um, se limpa o pó e folheia. E às vezes tropeço em coisas que ainda não tinha lido (acho):
Vive, dizes, no presente;
Vive só no presente.
Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as coisas que existem, não o tempo que as mede.
O que é o presente?
É uma coisa relativa ao passado e ao futuro.
É uma coisa que existe em virtude de outras coisas existirem.
Eu quero só a realidade, as coisas sem presente.
Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas coisas como presente; quero pensar nelas como coisas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.
Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.
Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.
Alberto Caeiro
Jorge Moniz às 11:07 |
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