(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



morder
o passado

 
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segunda-feira, outubro 04, 2004





Não desistas, disse-lhe, daqui a pouco tempo eu já posso, falta pouco, só não te posso dizer quanto, mas depois pego em ti e vamos descer o rio Lima de rafting, andar de balão na Suíça, vou mostrar-te todas as minhas ruelas preferidas de Paris, vamos alugar uma casa côr-de-laranja à beira de um lago e remar ao fim da tarde, vou ensinar-te truques de fotografia e frases de piano, falta pouco, só não te sei dizer quanto, não depende de mim...

Ela sorriu generosamente, sonhando com os braços à volta dele. Passados uns segundos, ele (sempre pragmático) pousou-a no chão:

Mas lembra-te que para cada viagem, para cada hora bem passada, vai haver momentos chatos, dores de cabeça, pequenas ou grandes discussões, listas de supermercado, faxinas, tempos mortos. Essa é a parte que nos livros e nos filmes não aparece, porque fica para lá do happy ending, mas na vida real está sempre presente, não há volta a dar-lhe. Os filmes acabam no primeiro beijo.

Não sabemos a reacção dela, porque não usou palavras e tinha a cara escondida no ombro dele.

Sabes, os sonhos parecem mais completos do que a realidade, mas é ao contrário - há coisas reais que não fazem parte dos sonhos. E além do mais, por melhores que as férias e os fins-de-semana tenham sido, vem sempre uma segunda-feira de trabalho a seguir.

Deixou escorregar os braços pelas costas dele, até apertar as mãos nas mãos e respirar fundo. Audivelmente.

Jorge Moniz às 17:25 |