segunda-feira, outubro 04, 2004
Não desistas, disse-lhe, daqui a pouco tempo eu já posso, falta pouco, só não te posso dizer quanto, mas depois pego em ti e vamos descer o rio Lima de rafting, andar de balão na Suíça, vou mostrar-te todas as minhas ruelas preferidas de Paris, vamos alugar uma casa côr-de-laranja à beira de um lago e remar ao fim da tarde, vou ensinar-te truques de fotografia e frases de piano, falta pouco, só não te sei dizer quanto, não depende de mim...
Ela sorriu generosamente, sonhando com os braços à volta dele. Passados uns segundos, ele (sempre pragmático) pousou-a no chão:
Mas lembra-te que para cada viagem, para cada hora bem passada, vai haver momentos chatos, dores de cabeça, pequenas ou grandes discussões, listas de supermercado, faxinas, tempos mortos. Essa é a parte que nos livros e nos filmes não aparece, porque fica para lá do happy ending, mas na vida real está sempre presente, não há volta a dar-lhe. Os filmes acabam no primeiro beijo.
Não sabemos a reacção dela, porque não usou palavras e tinha a cara escondida no ombro dele.
Sabes, os sonhos parecem mais completos do que a realidade, mas é ao contrário - há coisas reais que não fazem parte dos sonhos. E além do mais, por melhores que as férias e os fins-de-semana tenham sido, vem sempre uma segunda-feira de trabalho a seguir.
Deixou escorregar os braços pelas costas dele, até apertar as mãos nas mãos e respirar fundo. Audivelmente.
Jorge Moniz às 17:25 |
|