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quinta-feira, dezembro 23, 2004
Vox pop
É uma mania que já tem alguns anos. Tem por um lado a ver com a televisão que se faz actualmente um pouco por todo o mundo, mas também com a nossa recente democracia. Em qualquer telejornal, a propósito de qualquer tema mais ou menos técnico, lá vão perguntar aos "populares" que saem da estação do Cais do Sodré ou descem a Guerra Junqueiro o que acham.
Há depois também a versão "pseudo-sondagem", em que os "populares" enviam uma sms para um canal de televisão ou clicam em opções num site de notícias ou num blog.
Para começar, os resultados destes inquéritos têm pouca relevância, devido à participação depender apenas da vontade do participante e da possibilidade de bombardeamento de respostas.
Há depois outra questão que é a dos temas técnicos. É ridículo perguntar-se a um "popular" por exemplo:
1 - Confia na segurança das pontes portuguesas?
2 - Qual acha que é o melhor método para tratar os resíduos industriais perigosos?
Eu à primeira pergunta responderia com um "Não sou engenheiro civil e não consultei relatórios técnicos sobre o assunto, por isso não posso responder a essa questão." E, embora a segunda pergunta seja da minha área de formação, teria de rever livros, documentos, artigos, falar com pessoas, etc, porque raramente há respostas absolutas.
No vox pop ouve-se, na melhor das hipóteses, um "eu não sou técnico, mas..." e lá vem a opinião. Se não é técnico, cala-se ali e pronto! É que neste caso em particular do tratamento de resíduos, mete nojo a desinformação que foi feita junto das populações dos locais em causa, com paranóias ridículas sobre a sua saúde. A tal nível que se vem alguém dizer que não é bem assim é porque "é dos outros".
Isto tudo vem ainda de sermos um país com uma fraca formação científica. As gerações antes do 25 de Abril tipicamente tinham a 4ª classe ou nem isso e nos últimos 30 anos (além de serem curtos) ainda não se conseguiu estabilizar o sistema de ensino.
Mas há também uma responsabilidade dos jornalistas, que fogem muitas vezes ao esclarecimento técnico, preferindo o confronto político. Nestas questões, em vez de se convidarem representantes dos vários partidos, formados tipicamente em letras ou economia, faz mais sentido convidar universitários, industriais, técnicos das áreas em causa.
E faz sentido os jornalistas na sua formação terem pelo menos uma cadeira do género "Introdução à Ciência e Técnica", para não se verem tantos disparates escritos nos jornais e ditos na televisão.
Jorge Moniz às 12:55 |
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