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sexta-feira, fevereiro 11, 2005
Existe uma situação caricata na língua (ou antes na sociedade) portuguesa, que é a utilização da abreviatura Dr. . Dizem umas supostas regras de alguma suposta etiqueta, que se aplica o título Dr. a quem é licenciado e Doutor a quem é doutorado. Ora, como é óbvio, Dr. não passa de abreviatura de Doutor e portanto a sua utilização deveria ser exactamente a mesma.
Isto tem a ver com uma mania burguesista parola surgida no século XIX, que criou nos portugueses o hábito (obrigação?) de tratarem quem tinha algum tipo de canudo (ou pretendia tê-lo) por um título antes do nome. E infelizmente a situação ainda hoje perdura. Enquanto nos países de língua inglesa as pessoas são tratadas por Mister Bush e nos de língua francesa por Monsieur Chirac, por cá continuamos com o Dr. Santana Lopes e o Eng. Sócrates (e, a propósito, o melhor é nem falar dos examinadores de condução!).
Claro que há excepções recomendáveis: lembro-me de há uns anos nas portas dos gabinetes da Faculdade de Ciências em Lisboa os nomes dos ocupantes serem precedidos de Doutor, Mestre, ou Licenciado, conforme o grau académico de cada um. Nada de Dr.'s ambíguos.
Mas o que é um triste facto é que se sabe que o tratamento obtido social ou profissionalmente é diferente quando no cartão de visita aparecem algumas letras antes do nome, bom dia Sr. Engenheiro, com certeza Sr. Engenheiro, ora essa Sr. Engenheiro.
Ora na língua inglesa há uma outra situação curiosa: Mrs. é abreviatura de Mistress, mas digamos que identificam personagens antígonas na tríade do casamento. Felizmente, Mrs. lê-se missus, o que já vem do século XIX.
Já agora é interessante notar que os nomes usados para designar a "outra" em inglês, francês e português, não têm etimologicamente nada de pejorativo: Mistress = Senhora, Amante = Aquela que ama.
Vem tudo isto a propósito do título de hoje do Washington Post: "Camilla, from Mistress to Mrs.".
Jorge Moniz às 11:45 |
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