(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



morder
o passado

 
<< hoje



e-mail

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sexta-feira, outubro 31, 2003



Joseph Joseph morreu.

Jorge Moniz às 08:26 |



quinta-feira, outubro 30, 2003



Cala os olhos, vagabundo.

Não me digas
que há estradas no mundo
sem urtigas.

Não me contes
que nascem astros nos vales
para além dos horizontes.

Não me fales
de haver poentes
com as cores ardentes
das penas dum galo.

Não me tentes,
vagabundo.

Não quero ver o mundo.
Prefiro imaginá-lo.


José Gomes Ferreira

Jorge Moniz às 15:20 |



quarta-feira, outubro 29, 2003



Lido aqui:

Não se possui ninguém (mesmo os que pecam não o conseguem) e, sendo a arte a única forma de posse verdadeira, o que importa é recriar um ser e não prendê-lo.
Marguerite Yourcenar

E eu penso: recriar é uma bela resposta à tentação de possuir.
Ou então penso: recriar é uma útil alternativa à tentação de possuir.

Jorge Moniz às 09:22 |



terça-feira, outubro 28, 2003



Mão-de-obra, papel, lápis, cartão, tesoura, cola, tintas, electricidade para os computadores, fax, telefone, internet...

Estava só a tentar perceber como é que se gastam 5,6 milhões de contos a fazer um projecto de arquitectura...

Jorge Moniz às 16:30 |




Eu até gosto do Gehry, mas..... 28 milhões de euros, só para o projecto do Parque Mayer (a construção em si ainda nem se imagina quanto será), parece coisa de país rico (assim daqueles que organizam sozinhos europeus de futebol em épocas de crise, por exemplo).

Jorge Moniz às 15:34 |




a grande prova de sabedoria é ter presente que mesmo os sentimentos devem saber administrar o tempo.

José Saramago

Jorge Moniz às 13:04 |



segunda-feira, outubro 27, 2003



A 50 m da Cité de la Musique estava esta outra exposição. A polémica tem sido tão grande que eu ia com os dois pés atrás. Mas até gostei. A pior parte acho que é mesmo este cartaz (e aquele "gratuito" em grande destaque que parece um convite à comunidade tuga).
A instalação está muito bem feita, tem postais de Lisboa pendurados nuns arames, um mapa grande que se dobra como se fosse de um turista e uma maneira original de mostrar fotografias: circulam penduradas em frente e verso nuns carris à volta de um muro com janelas e são estas que nos permitem ver as fotografias do verso.
Há fotos do Luís Pavão e do Georges Pacheco, muitas já conhecidas e com temas "convencionais": as imagens clássicas das zonas históricas e das áreas mais modernas.
Depois há as fotos de um Stéphane Duroy que mostram muito de lixeiras, canteiros de obras, bairros de imigrantes, etc. Vêem-se aquelas coisas que nós não estamos habituados a ver, quer em exposições, quer ao vivo, porque quando vamos do confortável apartamento em Telheiras para o simpático bar em Alcântara, não paramos na Avenida de Ceuta, nem quase olhamos para o lado. Também não fazemos ideia de como são as casas dos imigrantes africanos e indianos, por exemplo, e isso é mostrado. Assim como estão lá aqueles lindos souvenirs que se vendem nas lojas da Rua Augusta (pratos decorados, leques estampados,...), onde também não costumamos entrar.
Finalmente há várias peças do Júlio Pomar, da Paula Rego, do José de Guimarães, etc.
Ou seja, a exposição mostra tudo, não é uma coisa para vender Lisboa a possíveis turistas. Se, como dizem alguns, a parte menos bonita está exagerada e dá uma má imagem, não sei. Eu sou um português a ver esta exposição no estrangeiro, ou seja, sem as mínimas condições para dar uma opinião objectiva.

Jorge Moniz às 14:10 |




Na época em que se ouvia Glen Medeiros, Rick Astley, os Europe, os Century, os Scorpions daquela altura, os Bon Jovi daquela altura, eu às vezes escondia-me numa qualquer rádio local muito amadora que à noite passava álbuns inteiros dos Supertramp, Eagles, Barclay James Harvest, Pink Floyd... Um dia ouvi uma música cuja letra terminava com qualquer coisa de "dark side of the moon", aquilo ficou-me no ouvido, fui à procura nas lojas e encontrei um tal de LP com o mesmo nome. Foi o meu primeiro 33 1/3.
Os anos passaram e acabei por arrancar os autocolantes da cama e os posters das paredes (que por sua vez tinham tirado o lugar a um do Benfica com o Bento, o Álvaro, o Bastos Lopes, o Nené, o Diamantino, o Stromberg,... outros tempos...).
Hoje em dia é raro ouvir esses discos, mesmo tendo-os copiado para CD, mas neste fim-de-semana fiz uma pequena viagem no tempo. A propósito dos 30 anos do Dark Side, está na Cité de la Musique esta exposição, desenhada pelo próprio Storm Thogerson, que fazia as capas dos álbuns dos Pink Floyd. Tem filmagens de concertos e gravações desde os anos 60, todo o tipo de objectos, cadernos com rascunhos das letras das músicas, maquetes dos palcos, os primeiros projectores de efeitos especiais, a primeira mesa de mistura quadrifónica (com joysticks para fazer o som passear) e as guitarras, baterias (com as telas decoradas por vários pintores), órgãos, sintetizadores (o VCS3!) e outro equipamento inventado por eles. Eu por mim passei os dedos por um minimoog!

Jorge Moniz às 08:40 |




Descobrindo mais uma voz com uma viola.

(é complicado haver uma FNAC entre a minha casa e o supermercado... muito complicado mesmo...)

Jorge Moniz às 08:00 |



sexta-feira, outubro 24, 2003



Siempre que te pregunto
que cuando, como y donde
tu siempre me respondes,
quizas, quizas, quizas.


ao que acrescentas: "e já vais com muita sorte!"

Jorge Moniz às 15:40 |




Se o ano passado o livro mais vendido para o Natal foi o do Homem que mordeu o cão, este ano palpita-me que será o d'O meu pipi.

Jorge Moniz às 14:32 |




A propósito do governo francês de direita estar cada vez mais impopular e da oposição de esquerda não aparecer com uma ideia, o Contra-Informação tem sido agora interrompido pelo Le Pen:
- Mas o que é que o senhor está a fazer aí?
- Nada. Estou à espera.

Jorge Moniz às 13:02 |




Num tabuleiro de pyrex, para onde se cortou uma pequena fatia de margarina, deitam-se as postas de bacalhau. Salpicam-se com um pouco de salsa, louro e colorau e regam-se com azeite e um fio de vinho branco. Cortam-se échalotes ou pequenas cebolas às rodelas, com que se decora o bacalhau. Leva-se ao forno, pré-aquecido a 230 ºC, durante 40 minutos. Acompanhar com o puré de cenoura preparado à parte apenas em água e sal.

Desde que encontrei aqui bacalhau à venda isto tem sido uma festa! Vou continuar a fazer experiências, mas melhor do que este... huuummmm, não me parece!

Jorge Moniz às 09:20 |



quinta-feira, outubro 23, 2003



Enquanto isso, o Pacheco Pereira vai-nos contando o que se discute no Parlamento Europeu:

Numa reunião sobre o multilinguismo e o multiculturalismo, duas palavras quentes em vésperas do alargamento, discutiu-se a sinalética como alternativa a ter cartazes do tamanho de uma parede com inscrições em duas dezenas de línguas para tudo. Houve, no entanto, reservas quanto à sinalética para identificar os quartos de banho das senhoras e dos cavalheiros porque a distinção saias-calças parece ser entendida como confusa e sexista. Como acho que não me elegeram para discutir a sinalética dos quartos de banho, propus a representação estilizada, em nome dos bons costumes, dos órgãos sexuais masculinos e femininos para identificar as portas. Sem sucesso. Parece que também não é inequívoco.

Jorge Moniz às 16:33 |




Uma ideia: e se os bufos do Ministério Público, PJ e afins criassem agora uma fuga de informação a divulgar os seus próprios nomes?
A seguir eram demitidos, processados por fuga de informação, ficavam em prisão preventiva ad eternum,...

Jorge Moniz às 15:31 |




Se alguém tiver transcrito a cena Miguel Sousa Tavares vs Manuela Moura Guedes eu agradecia uma cópia... É que aqui só me chegam os ecos.
(se for em vídeo então, até ofereço uns crepes no Jocelin!)

Jorge Moniz às 13:44 |




Falando de metro, os inventores do discman e sobretudo dos leitores de mp3 (porque é que estes que são mais pequenos e recentes ficaram como um nome maior?) não imaginaram com certeza um forte efeito secundário das suas invenções: a subversão da música no metro de Paris.
Hoje em dia, para cada músico a tocar um instrumento a sério, há uns dez a "cantar" (normalmente rap) com o microfone ligado a um amplificador num carrinho de rodas onde está colado a fita-cola o tal leitor mp3 de onde sai o play-back. Os resistentes da música tocada estão muitas vezes nos túneis e não nas carruagens, por as curvas a alta velocidade falarem mais alto do que alguns instrumentos. Mas ainda vai havendo um ou outro acordeão, viola, flauta, ou violino; há um grupo de trompetes e outros metais que frequenta a linha 2; há mesmo uma "pianista eléctrica" na Étoile; e na bagunça da estação de Chatelet ainda há espaço para um daqueles grupos de música dos Andes ou a pequena orquestra clássica que costuma estar na Place des Vosges.
De seis em seis meses a RATP faz audições a mais de 1000 músicos que pretendem ser acreditados para tocar no metro, aceitando uns 350. Este ano editaram mesmo um CD com 14 faixas: o número de linhas do metro.
Ah, tem razão o leitor atento, não é só música: também há as marionetas nos comboios da linha 6!

Jorge Moniz às 12:12 |




Lembram-se de há uns meses eu ter contado aqui a história de uma rapariga e do seu cão numa carruagem do metro? Ontem voltei a vê-los: vinham a descer as escadas para o cais na Pigalle.
Da primeira vez tanto olhei para o cão que nem reparei no azul dos olhos dela!

Jorge Moniz às 12:09 |




Ainda tenho os olhos às riscas: ontem pus-me a ver o jogo do Porto no Canal+. Codificado, claro.

Jorge Moniz às 09:13 |



quarta-feira, outubro 22, 2003



Durmo. Se sonho, ao despertar não sei
Que coisas eu sonhei.
Durmo. Se durmo sem sonhar, desperto
Para um espaço aberto
Que não conheço, pois que despertei
Para o que ainda não sei.
Melhor é nem sonhar nem não sonhar
E nunca despertar.


Fernando Pessoa

Jorge Moniz às 15:37 |




E para aqui estamos
estatelados no Poço
a ver os outros agarrados aos ramos
- com um destino igual ao nosso


José Gomes Ferreira

Jorge Moniz às 11:06 |



terça-feira, outubro 21, 2003



Eu não acredito. Os carros estão a passar lá fora, houve este pombo que me pousou agora no parapeito. Tudo está na mesma. Por isso não pode ser. Hoje de manhã o Sol levantou-se, havia leite no frigorífico, na rádio davam as notícias do costume. O mundo continua a funcionar. Se isso fosse verdade, aquele homem não iria ali de bicicleta, aquela rapariga não estaria a sorrir enquanto fala ao telemóvel, os miúdos além de certeza que não estariam a jogar à bola. Por isso vou rasgar este e-mail, apagá-lo seria vulgar, e recusar-me a acreditar. Daqui a cinco minutos isto nunca aconteceu e tudo vai continuar como dantes. Para sempre. Porque eu quero.

Jorge Moniz às 09:42 |



segunda-feira, outubro 20, 2003



Isto tanto uso o google que há bocado a escrever a morada saiu ggg.goo...

Jorge Moniz às 16:20 |




No Contra-informação daqui tem aparecido todos os dias o Rambo a interromper o telejornal:
- Era só para dizer que a guerra no Iraque já acabou!
- Mas já disseste isso ontem!
- Eu sei, mas parece que os iraquianos ainda não ouviram!

Jorge Moniz às 12:53 |




Não é agoirar, mas o Karol anda-se a habilitar a morrer em directo na televisão...

Jorge Moniz às 09:16 |



sexta-feira, outubro 17, 2003



Você quer ter um blog de sucesso? Pois é tão simples como a Academia das Estrelas: um pequeno curso intensivo e aí está a fama! Em apenas 12 passos:

1 - Escolha o tema do seu blog (literatura, poesia, humor, diário, citações, política, sociedade, etc...).
2 - Escolha um nome em que se perceba qual é o tema do seu blog.
3 - Faça um template simples, com poucas cores, fundo branco ou preto de preferência e sem imagens. A página deverá ser rápida a carregar e ter um design não agressivo ao visitante incauto.
4 - Não se esqueça dos comentários.
5 - Dote o seu blog de todas as ferramentas de contagem e controlo de visitas possíveis e imaginárias, de modo a estar sempre a par de quem o visita, quando, como, de onde, através de que link, que número calça e qual a cor dos seus olhos.
6 - Numa coluna inclua pelo menos 50 links para outros blogs, de preferêcia do mesmo tema e também com várias ferramentas de controlo, para que eles saibam que você os visita através de um link que tem no seu blog.
7 - Nesta altura já pode começar a publicar os seus posts, tendo o cuidado de não se desviar do tema. Se vai escrever poemas, é muito reprovável fazer um post a dizer que ontem à noite deixou queimar o jantar enquanto via a Teresinha na televisão, ou que a sua vizinha da frente tem roupa interior vermelha no estendal.
8 - Visite os outros blogs sempre através dos seus links e muitas vezes ao dia, mesmo que não tenha paciência para os ler: a ideia é a visita ficar registada.
9 - Depois de ter publicado um número razoável de posts, deve começar a deixar comentários nos outros blogs, incluindo referências àquilo que você escreve e não se esquecendo de preencher o campo url ou link com o endereço do seu blog (Atenção! Muito importante: nalguns motores de comentários não é visível se o comentador deixou ou não um link. Nesse caso é recomendável escrevê-lo também no texto do comentário, como quem não percebe nada disto e se distraiu.). Há também a possibilidade da campanha intensiva de comentários a dizerem especificamente "Venham ver este novo blog".
10 - Responda de um modo simpático a todos os comentários que fizerem no seu blog, nem que seja para agradecer a visita.
11 - Publique o seu blog várias vezes ao dia, mesmo que não tenha modificado ou acrescentado nada, para ele aparecer nos índices de blogs actualizados recentemente.
12 - Finalmente: estas dicas poderão fazer com que tenha muitas primeiras visitas. Para fidelizá-las terá mesmo que se basear no conteúdo dos seus posts; aí já não há volta a dar-lhe. Tenha no entanto em atenção que o plágio é rápida e facilmente detectado.

Jorge Moniz às 17:04 |




No Maio de 68, Milos Forman estava em Paris. E não percebia nada disto. Perguntava aos franceses: "Mas por que é que vocês se esforçam tanto por içar a bandeira vermelha, quando nós temos tanto trabalho para baixá-la?"
E mais se espantava quando Roger Vadim, na altura já ex-marido de Brigitte Bardot, do alto do seu cachecol Hermès num carro desportivo, dizia com o ar mais sério do mundo: "É evidente que o que nós queremos, antes de tudo, é a chegada do socialismo."
Milos ficava muito tempo calado sem perceber, mas um dia respodeu aos amigos do cinema francês: "Vocês hão-de ver o resultado da revolução: metem na prisão todos os artistas e todos os intelectuais tornam-se pedreiros."

Vem isto a propósito de andar a ler um livro escrito por Jean-Claude Carrière (argumentista de vários filmes de Buñuel, Louis Malle, Milos Forman, também da "Insustentável leveza do ser", "Valmont", "Cyrano",...), que naquela época passou pelas três cidades quentes da utopia: New York e as flores, Paris e as pedras, Praga e os tanques.

Jorge Moniz às 15:26 |




Ao fim de sete meses neste local de trabalho, havendo umas trinta pessoas neste corredor, hoje, pela primeira vez, estou a ouvir um telemóvel a tocar.

Jorge Moniz às 14:55 |




Em publicidade (como em tudo, aliás) as ideias mais geniais são muitas vezes as mais simples.
Anúncio a um Saab descapotável: "A Suécia fica a sul do Pólo Norte."

Jorge Moniz às 12:36 |




De entre os vários casos de justiça que andam sempre nas notícias francesas, este é o mais mirabolante:
No início dos anos 80 vários jovens militares do mesmo quartel desaparecem. O Exército trata-os como desertores e só uma meia-dúzia de anos mais tarde o caso começa a ser investigado. Psicólogos traçam o perfil do possível raptor: militar, com algum tipo de problemas mentais e sexuais. Num controlo rotineiro na estrada ali perto, a Polícia apanha um militar numa carrinha com um estrangeiro preso na parte de trás, vítima de diversos abusos. A partir daqui as investigações prosseguem, descobrem-se vídeos amadores perversos entre outro material e ele acaba por ser julgado e condenado pelos maus-tratos ao estrangeiro. Vem-se a saber que tinha sido superior dos militares desaparecidos, mas não se consegue fazer uma maior ligação.
Só recentemente foram analisados alguns cabelos que estavam na carrinha que são de 3 deles. Com pouco mais do que isto ele é acusado de homicídio, 20 anos depois. Em Maio passado tenta-se suicidar com comprimidos. Desde aí tem estado num quarto de hospital fortemente vigiado.
O julgamento começou há uns dias. As famílias dos desaparecidos contavam saber finalmente se ele os matou e onde estão os corpos. No primeiro dia ele recusa-se a ir à sala de audiências, diz que não aguenta. O segundo dia de julgamento não chega a acontecer. Durante a noite ele tapa-se bem na cama entre duas visitas dos guardas e com uma lâmina de barbear corta uma veia na perna. Agora vai-se investigar como ele obteve e escondeu a lâmina. E as famílias nunca mais saberão dos corpos dos desaparecidos.

Na autópsia descobre-se o que ninguém sabia: tinha um cancro renal em fase adiantada. Restavam-lhe algumas semanas de vida.

Jorge Moniz às 09:00 |



quinta-feira, outubro 16, 2003



- Nunca saberemos até que ponto as nossas vidas mudariam se certas frases ouvidas mas não percebidas tivessem sido entendidas.
- O melhor, penso eu, seria começar por não fazer de conta que não percebemos as outras, as claras e directas.
- Tem toda a razão, mas há pessoas a quem atrai mais o duvidoso que o certo, menos o objectivo do que o vestígio dele, mais a pegada na areia do que o animal que a deixou, são os sonhadores.


José Saramago

Jorge Moniz às 15:31 |




O que te dar neste dia?
O que te daria eu ontem
quando não te conhecia?
E amanhã, o que darei
se hoje não te dei
o que devia?

O que te dou é apenas
sombra do que queria.
Dou-te prosa, e o desejo
era dar-te poesia.


Affonso Romano de Sant'Anna

Jorge Moniz às 13:32 |




Joseph continua a pintar. Jornalistas, críticos e amadores de arte rodeiam-no. Joseph acha tudo isto um pouco estranho. Joseph diz que há uns dias teve na mão 100 euros e diz que nunca tinha visto tanto dinheiro. À entrada no hospital, deu como nome próprio Joseph e nome de família Joseph. Em branco ficaram os espaços para a data de nascimento e a família. Joseph diz que não se lembra. Joseph morava entre caixotes de cartão no Marais, onde o seu álcool se metia em problemas com a polícia e os vizinhos. Joseph fala um francês legendado na televisão e fala um inglês corrente. Ninguém sabe a sua nacionalidade. Joseph diz que não se lembra. Tem do passado apenas duas imagens desfocadas: um incêndio e um desgosto de amor. Joseph não se lembra. Mas na cama do hospital Joseph Joseph continua a pintar.

Jorge Moniz às 11:24 |



quarta-feira, outubro 15, 2003





A ideia original aqui.

Quando uma pessoa não sabe o que há-de dizer, a pior coisa que pode dizer é que não sabe o que há-de dizer.
Também válido para o verbo fazer.

Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir
à despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão subtil... tão pólen...
como aquela nuvem além (vêem?) - nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...


José Gomes Ferreira

Jorge Moniz às 12:51 |



terça-feira, outubro 14, 2003




Jorge Moniz às 12:34 |



segunda-feira, outubro 13, 2003



Não gosto de gente estúpida!
A estupidez é um tipo que diz "Vivo e isso chega-me"!


Jacques Brel

Jorge Moniz às 17:47 |




Esta televisão agora também é rádio.

Jorge Moniz às 16:48 |




Você sabia que em França...
... também há balizas mal presas ao chão que matam os miúdos que se penduram nelas?
... nos grandes supermercados já se encontram à venda biscoitos light para gatos e cães?
... o Moulin Rouge foi multado por discriminação racial pelo facto de todos os seus empregados de mesa serem brancos e todos os empregados da cozinha serem negros?
... duas irmãs acabam de ser expulsas dum liceu por usarem véu? Isto porque (1) a República é laica, (2) a Escola deve incutir os valores da República, (3) ostentar sinais religiosos é incompatível com uma Escola laica. Eu devo ser muito estúpido para não perceber como se chega ao ponto (3), mas vou estar atento a ver se vejo entrar numa Escola pública alguma miúda usando um fio com uma cruz. Nós tínhamos a piada "Queres ser bonita ou ir para o Técnico?"; aqui é mais "Se não mostras as orelhas não vais à Escola".
(mais histórias do Ensino à francesa aqui)

Jorge Moniz às 15:30 |




Ao longo desta semana, no Pavilhão Atlântico cá do sítio (Palais Omnisports de Paris Bercy) estão milhares de pessoas a olhar para uns carecas com uns vestidos amarelos e vermelhos e a ouvir o mais importante deles, um tal de Dalai Lama, dizer umas coisas que depois vão aparecer nuns e-mails em cima de fotografias de paisagens bucólicas.

Jorge Moniz às 12:36 |




Até ao século XIX, a colina de Montmartre cobria-se de campos de trigo e vinhas. Depois veio a cidade e tudo desapareceu. Mais tarde, em 1933, o pintor Poulbot mais uns amigos conseguiram travar um projecto imobiliário e plantar uma pequena vinha na encosta norte da colina, que todos os anos produz algumas centenas de garrafas de vinho, vendidas a um preço estúpido mais devido à fama do que à qualidade.
Este ano, na noite de 31 de Maio para 1 de Junho, depois de um dia de canícula, abateu-se uma chuvada de granizo sobre Montmartre que durou três quartos de hora e destruiu toda a colheita. Isso não impediu que este fim-de-semana se realizasse a tradicional Festa das Vindimas que, além das propriamente ditas, inclui uma espécie de feira das tasquinhas com os vinhos, os queijos, os enchidos, todos os produtos du terroir, concertos e o Grande Desfile. Neste participam dezenas de confrarias, grupos de vários géneros, com trajes de época, as toucas da Bretanha, tambores, fanfarras, bandas de gaitas-de-foles e majorettes! (e eu que já não via majorettes desde há uns anos no castelo do Hamlet, onde estavam a receber o actual e mais verídico Príncipe da Dinamarca)
É uma festa popular, mas sem grandes euforias. Não é nenhum carnaval, afinal já vamos a caminho do norte da Europa, apesar da mania que os franceses com um copo de vinho na mão têm de desatar a cantar em coro por tudo e por nada. E ainda por cima músicas francesas!

(Pequeno aparte: antes do desfile estão alguns polícias a entrar numa carrinha e dizem-lhes os colegas que ficam em terra: "Vá, boa caça!"
Depois digam que não.)

Jorge Moniz às 12:34 |




Esta noite sonhei que estava em Lisboa, não sei com quem nem a fazer o quê.
De manhã vou no Metro e há aquele som irritante de alguém com um walkman em altos berros. Pelo menos não era rap... Aliás começo a reparar melhor e percebo que são os Xutos! Levanto os olhos do livro, à minha volta há 3 pessoas de walkman nas orelhas. Esta senhora aqui de cabelo curto e ruivo - não me parece; demasiado francesa. Aquele miúdo muito lavadinho - também não. Ah: um gajo de calças e blusão de ganga - apanhei-te!
Passados uns minutos entra na carruagem uma senhora baixinha de cabelo preto com um livro na mão. Até aqui nada de extraordinário, não fosse a cor beige da capa do livro, facilmente reconhecível em qualquer ponto do mundo. Inclino a cabeça para ler o título: "Ensaio sobre a Cegueira".

(...que outras coisas poderia eu sonhar que se prolongassem de manhã...?)

Jorge Moniz às 09:55 |




Encolher um capítulo de 80 páginas para 20 é uma árdua tarefa (em inglês diz-se dire strait; aposto que não sabiam esta!) que requer concentração, principalmente ao fim-de-semana. Televisão desligada, vou remexer nos CD's. Já que estava na onda da Heather, meti a Aimee, que acabou por ficar em replay o resto do tempo. Tal como disse aqui há uns tempos a outro propósito: há coisas que nunca serão repetidas vezes demais.
Quanto ao trabalhinho, confirmou-se que estou num período de intensa e árdua preguiça. Cozinhei, faxinei, fui aos Correios, ao supermercado, à FNAC, às vindimas, acabei por ligar a televisão, calcei umas meias de lã, comi uma dúzia de chocolatines, oleei a porta da casa-de-banho (para eu não me acordar com a chiadeira quando lá vou de noite), mas depois disto tudo consegui abrir a tampa ao portátil. Para me lembrar que afinal escrever, apagar, copiar, emendar, traduzir, editar, até tem a sua piada. Quando eu voltar, ainda acabo por colar um anúncio na montra de uma mercearia a dizer "fazem-se trabalhos em word, excel, traduções, etc..."!

Jorge Moniz às 09:34 |




Bom, de facto o Brasil treinado pelo Scolari não jogou um chavo na preparação para o último mundial e ganhou...
Mas não sei não...

Jorge Moniz às 09:32 |



sexta-feira, outubro 10, 2003



A melhor dos últimos tempos!

Conversa entre o filho de um ministro e a filha de outro ministro:

- Tens um minuto?

- Sim, claro.

- Decidi ir para Medicina.

- Decidiste ir para Medicina... Assim?!

- ... sim!

- Mas, ouve lá, falaste com o teu Pai?

- Não! Falei com o teu.

Jorge Moniz às 10:45 |




Após uma luta desigual entre o reles mim e o meu template que já parecia ter vontade própria, o homme (ainda não me libertei do nome antigo!) passa a ter aqui à esquerda uns links para outros blogs (tanto anglicismo, chiça!).
Façam o favor de entrar.

Jorge Moniz às 10:04 |



quinta-feira, outubro 09, 2003



Certas relações harmoniosas criam-se e duram graças a um sistema complexo de pequenas inverdades, de renúncias, uma espécie de bailado cúmplice de gestos e posturas, tudo resumível no nunca assaz citado provérbio, ou sentença, que muito melhor lhe assenta esta designação, Tu que sabes e eu que sei, cala-te tu, que eu me calarei.

José Saramago

Jorge Moniz às 17:04 |




- Olharei a tua sombra se não quiseres que te olhe a ti.
- Quero estar onde a minha sombra estiver, se lá é que estiverem os teus olhos.


José Saramago

Jorge Moniz às 12:51 |




ao contrário do que se julga e pôs a correr foi um botânico o autor da célebre frase, Uma rosa é uma rosa é uma rosa, um poeta teria dito apenas, Uma rosa, o resto caberia no silêncio de contemplá-la.

José Saramago

Jorge Moniz às 09:00 |




Há livros que leio rapidamente, saltando mesmo por cima de algumas palavras ou linhas, numa diagonal mais ou menos acentuada, porque pouco me interessam, porque a escrita é demasiado densa.
Depois há outros que leio rapidamente, sem saltar nada, têm um estilo ligeiro, quase se lêem num dia.
Há também aqueles que leio devagar, às vezes voltando umas linhas acima, porque não percebi bem o que li, mas quero perceber.
E há então os outros, que leio não importa a que velocidade, voltando às vezes umas linhas acima, porque percebi bem o que li e quero voltar a perceber.

Jorge Moniz às 08:41 |



quarta-feira, outubro 08, 2003



De olhos fechados num abraço imóvel. Abertos não veriam o um e o outro, mas antes o que se estende para trás do outro e do um. Melhor estarem fechados. De qualquer modo o essencial não se vê. Imóveis, entrelaçados. Fibras de uma corda que não se desfaz. Esticada porque imóvel. Não há um movimento, não há um gesto, apenas estar e sentir. Ser. Conseguir esquecer tudo. Ganhar a magia do início. Ou a nostalgia de algo que nunca chegou a existir (por que não chamar-lhe simplesmente fantasia?).
Esta mão deslizou um pouco naquele ombro - terminou o momento.

Jorge Moniz às 13:59 |




Um famoso escritor francês, que não gosta de se ver ao espelho, cita numa entrevista a frase "as pessoas têm a cada idade a cara que merecem".
Estava a pensar um bocado nisto, que até tem laivos de astrologia e outras coisas de que não sei os nomes, quando caí na pergunta: afinal, o que é o mérito?

Jorge Moniz às 12:36 |



segunda-feira, outubro 06, 2003




Morna é a voz da Heather Nova que vai hoje à noite aquecer a Cigale.

Acho que vou pôr o CD, apagar as luzes e estar lá.

(a ver os olhos da Katie Holmes; as bandas sonoras têm destas coisas...)

Jorge Moniz às 16:03 |




Morno não é este Outono. Já neva nas montanhas e mesmo em Paris acordei hoje com um algarismo centígrado. Não há-de faltar muito para verificar se o meu termómetro tem um -.

Jorge Moniz às 11:42 |




Morno é algo um pouco abaixo dos 37 ºC do nosso sangue quente.
O lóbulo da orelha, por exemplo.

(antes de ser mordido)

Jorge Moniz às 07:47 |



sábado, outubro 04, 2003



O nome, não é?
Pois o nome nunca me agradou muito, mas para mim é dicífil a criatividade condensada (não daria para publicitário). Sejam pequenas histórias de adolescente, contos, crónicas, artigos científicos, a pior parte sempre foi o título.

Para quem não sabe, a expressão "L'homme qui a mordu le chien", assim mesmo em francês, nasceu (pela parte que me toca) como subject de uma série de mails que eu mandei aos amigos há alguns anos. Estava em Bordéus e basicamente nesses mails eu enviava umas histórias do género das do Markl que ia apanhando na rádio. O que não é bem o caso do que aqui vou escrevendo.
(Não me lembro se quando estive no Rio mandava alguma coisa como "O cara que deu uma baita dentada no cachorro"!)

Como eu queria manter o endereço da página e o arranjo dos links aqui ao lado, era complicado encontrar uma alternativa. Mas de repente a ideia apareceu e estive-me nas tintas para a coerência com o endereço.
As mulheres gostam de mudar os móveis, os homens gostam de mudar de mulheres. Eu que moro sozinho numa casa alugada mudei o nome do blog. Pronto.

(De qualquer maneira, desaparece um homem, mas aparece uma mulher!)

Jorge Moniz às 16:23 |



sexta-feira, outubro 03, 2003



jean-pierre tirouflet, o director-geral do grupo rhodia deve estar neste momento a demitir-se
as acções na bolsa de paris estão suspensas
correm rumores de um plano social
o grupo emprega 23 000 pessoas em todo o mundo, 10 000 em frança

Jorge Moniz às 09:56 |



quinta-feira, outubro 02, 2003



Vantagem de um estranho é que confiamos essa mentira de termos uma só alma.

Mia Couto, in O Último Vôo do Flamingo

Jorge Moniz às 19:01 |




Nesta minha ida a Portugal, consegui entalar um casamento, uma meia-maratona, duas tardes de praia e algumas visitas.
Como se pode ver naquela coisa electrónica por cima do meu primo a cortar a meta, não foi possível alcançar o objectivo das 2h00...
A culpa foi claro do casamento da véspera que teve lugar a 100 km dali e que só me deixou estar 2 horas e meia na cama. E é também daquele estranho líquido azul com sabor a rebuçado e aspecto de gasolina.



No fim, o merecido descanso dos guerreiros, no nosso melhor estilo ó-pra-mim-na-expo98-a-descansar-ao-pé-dos-vulcões-e-a-comer-o-farnel-tia-jaquina-passa-aí-a-broa!


Jorge Moniz às 10:36 |




8 meses de homme...
...às vezes penso quanto tempo isto ainda vai durar...
Uma coisa é certa: estivesse eu em Lisboa, a história seria completamente diferente. Para o bem e para o mal, provavelmente o homme nem sequer teria nascido!

Jorge Moniz às 09:30 |




Tu que gostavas de me vir cá visitar, mas estás curto de massas, tenho novidades para ti:
Com as novas tarifas light da Air Luxor, há bilhetes para Paris a cerca de 12 contos (mais uns 5 para as taxas de aeroporto)! E um tarifário com um nome destes até é capaz de contribuir para aquela dieta que andas a adiar há tanto tempo.

(este interlúdio de publicidade gratuita foi gentilmente cedido pela Patrícia)

Jorge Moniz às 09:21 |




De manhã, naquela fase em que flutuamos meio a dormir, meio acordados, aparecem vindas do nada imagens, palavras, ideias, muitas vezes sem nexo. Hoje tropecei nesta: e se nós pudéssemos mudar a cor dos olhos em função do olhar...?

Dou um exemplo:
- Estávamos muito bem a conversar, ele de repente virou-se para mim e fez-me uns olhos tão azuis que eu fiquei sem palavras!
E outro:
- Quando ela me veio com aquele olhar negro eu percebi que era o fim...

.
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camaleões de sentir

Jorge Moniz às 08:18 |




Uma das coisas mais chatas quando chega o Outono não é voltar a vestir camisas.
É passá-las a ferro.

Jorge Moniz às 08:18 |




Já ia bem uma mudança de hora...

Jorge Moniz às 08:16 |



quarta-feira, outubro 01, 2003



Para quem ficou por terras de Lisboa tenho uma palavra apenas: Arte.
Não é o canal de televisão, nem o conceito em si. É a peça da Yasmina Reza que está em reposição no Villaret, com o Zé Pedro Gomes, o Miguel Guilherme e o António Feio. Sim, é à partida uma comédia sobre a compra de um quadro branco. Mas já vos aconteceu amizades de juventude sofrerem precalços ao entrar na idade adulta, quando os ideais, as ambições, o estrato social divergem, ou apenas passam a ter mais importância? Das melhores horas que já passei sentado em frente a um palco.

Jorge Moniz às 17:37 |




Vou descobrindo aos poucos que há outros tugas na diáspora, exílio, como lhe quiserem chamar, que gostam de escrever umas coisas. Há quem leve o pão debaixo do sovaco, quem bata as asas e até há reencarnações de princesas.
(Nota: estes blogs são muito melhores do que o homme logo à partida por terem imaginação para os seus nomes e não os andarem a roubar a programas de rádio!)

Jorge Moniz às 13:46 |






Parabéns Zé!


E chegou a vez do nosso antigo correspondente na Suécia, previamente na Dinamarca, previamente na Alemanha, previamente no LTI,... passar a barreira dos 30! Quem sabe para breve talvez correspondente a partir de Coimbra...

Jorge Moniz às 09:23 |




De volta de uma viagem relâmpago a Portugal!
De volta ao trabalho...

Jorge Moniz às 08:27 |