(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



morder
o passado

 
<< hoje



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sábado, janeiro 31, 2004


Luz

Quando ela incomodava de mais toda a gente, e todos os projectos de turbulência lhe pareciam módicos processos de distracção, desculpava-se velhacamente: "É o cabeçudo..." Porque para ela, não sem um certo amor e conflito moral, o girino vivia no seu ventre como um peixe num aquário, e era confidente de muitas razões que o mundo lhe negava. Sentava-se nas escadinhas em leque, punha-se a esmagar com uma pedra as cabecinhas buliçosas do musgo, e conversava confrangedoramente com o seu girino:
- Vão-me matar qualquer dia. Enterram-me debaixo de uma figueira, e eu tenho que estar quieta debaixo da terra e com as lagartas a fazer-me cócegas. Não gostam de mim, já sabes. Não faço nada de propósito, as coisas já estão feitas e então vejo que aconteceram. Tu, cabeçudo, estás a ouvir-me. Temos os dois a culpa de tudo... (...) Dorme aqui dentro, que queres mais? Conto-te o que vejo, há coisas que só confio a ti. As coisas más. As coisas más são o melhor dos nossos segredos.


Agustina Bessa Luís, in A Muralha

Jorge Moniz às 13:23 |