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sábado, março 24, 2007
Astros
Somos planetas sem um sol à volta do qual rodar. E assim andamos à deriva, por vezes mais a direito, parecendo decididos, confiantes; por vezes às voltas, parecendo indecisos, inconstantes; mas sempre tentando descobrir um caminho aqui e ali. Ocasionalmente a atracção universal entre os corpos faz com que um ou vários planetas se aproximem de nós. Então fazemos um percurso em comum, até a gravidade fraquejar ou aparecer outra força mais forte que nos faça desviar do caminho. Há pessoas, planetas, com quem passamos a vida toda, a uma distância maior ou menor. Há amizades que são sólidas em contactos quase anuais e durarão décadas; outras que são intensas, sedentas e se esfumam num ápice. E quem diz amizades diz outro tipo de relações. Porque quanto mais depressa os planetas se aproximam, mais facilmente podem fazer ricochete e afastar-se. Se os caminhos forem quase paralelos, a aproximação é lenta e o trajecto em comum mais prolongado. Fora deste simplismo bimodal, há aquelas pessoas que em dada altura fazem uma parte do caminho connosco e depois desaparecem. Ou desaparecemos nós. Sem razão aparente. Porque é assim e nem todas sobrevivem ao tempo. Ou porque quando nos conhecemos havia um alinhamento especial dos planetas que se perdeu. Só que a água não passa duas vezes por baixo da mesma ponte, mas pode passar por baixo de outra ponte. Às vezes há reencontros e os mesmos planetas podem percorrer novos percursos juntos. Entre órbitas mútuas e múltiplas, derivamos menos do que julgamos.
Jorge Moniz às 10:54 |
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