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domingo, junho 17, 2007
Antigamente a maioria das pessoas saía de casa dos pais para casar. Só viviam sozinhas quando enviuvavam (impressionante quantidade de v's numa frase). Por isso nunca criavam hábitos solitários. Hoje o mais normal é pelo menos um dos cônjuges (ou concubinos) ter passado alguns anos a morar sozinho. Nesse período de tempo, decora-se uma casa ao seu gosto, sai-se e entra-se de casa quando se quer sem ter de prestar contas, faz-se barulho a qualquer hora da noite, pode-se ser maníaco da limpeza ou deixar acumular sujidade, é-se o único responsável e espectador, em suma, cultiva-se o ego (seja com -ismo ou -centrismo). Depois destes anos, como é que se passa a conviver com alguém no mesmo espaço? Como compatibilizar gostos estéticos na decoração do espaço? Como se habituar ao ressonar do outro todas as noites? Ter uma insónia e não poder ligar o rádio? Não poder dormir atravessado? Terem de jantar (ou pelo menos tentar) a mesma coisa? E os canais de televisão? Apetecer passar umas horas sozinho e ter de sair de casa para o fazer? Pior: ter de explicar bem porquê e talvez aturar desconfianças (a um pequeno passo de cada um começar a espiar as sms's do outro). Não esquecendo, claro, os clichés verdadeiros da tampa da sanita levantada e da pasta de dentes apertada no meio (qualquer pretexto serve). Durante esses anos de "solidão" não se desenvolveram, antes pelo contrário, as capacidades de compromisso e cedência para um bem comum. Perde-se adaptabilidade. E essas pessoas com certeza irão ter mais dificuldades do que os outros. Alguns com capacidade financeira para isso, optam pelo together apart. Os outros ou conseguem ou não. Tão simples quanto isso. Mas há quem consiga. Claro.
Jorge Moniz às 11:38 |
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