(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



morder
o passado

 
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sexta-feira, fevereiro 20, 2004


EU SOU PORTUGUÊS
Foram divulgadas as estatísticas do último recenseamento da população de França. É uma população em crescimento, mais devido aos nascimentos do que à imigração, o que é contrário à tendência normal na Europa. Além das razões culturais, há também os fortes apoios às famílias numerosas (a partir de 3 filhos quase não se paga IRS) e a facilidade na educação das crianças (há uma escola ou uma creche em cada esquina).

Mas não era disto que eu ia falar. A propósito do recenseamento, voltou-se aos 16 000 idosos mortos no verão passado por causa do calor. Por aqui ainda se debatem as causas e os possíveis remédios.
Quanto às primeiras, tem grande destaque a falta de interesse das famílias, que estavam na praia sem se preocuparem com os seus idosos sozinhos em casa, e alguma falta de apoio institucional em termos de lares e do seu elevado custo.
Quanto aos remédios, nos telejornais franceses é muito frequente fazerem-se comparações com as soluções usadas pelos colegas europeus, quase sempre os vizinhos: Alemanha, Itália, Espanha, Reino Unido. Mas hoje no telejornal da TF1 mostraram como se fazem as coisas em Portugal.
Reportagem do correspondente: uma carrinha apanha várias senhoras idosas nas suas casas, o motorista já as conhece pelos nomes e leva-as ao Centro de Dia do Campo Grande. Mostram imagens de uma representação teatral em que alguns dos utentes participam enquanto os outros assistem. A directora fala francês e esclarece que recebem lá 200 pessoas que pagam 7 euros por mês, o resto sendo coberto pela Segurança Social. Dali a pouco começa um bailarico. Uma das senhoras faz uma pausa na dança e diz para a câmara que se sente ali muito feliz.

Da próxima vez que disserem que Portugal está na cauda da Europa nisto e naquilo, lembrem-se desta história. A nossa mania do coitadinho impede-nos de ver tudo.

Mas logo tinha de ser numa 6ª feira?
É que amanhã não posso chegar ao trabalho e dizer aos meus colegas: Eu sou português.

Jorge Moniz às 19:55 |