(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



morder
o passado

 
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quinta-feira, fevereiro 12, 2004


shshshshshshshsh
A senhora que ouve estática na rádio só ouve estática na rádio.
Em casa tem uma pequena telefonia que está quase sempre numa frequência sem emissores, cuidadosamente escolhida em função da textura de estática obtida. Cada vez que um dos filhos a visita, diz-lhe "mãe por que é que voltou a mudar isto?", e volta a mudar aquilo para um posto qualquer, de preferência que passe música dos tempos em que ela era nova, nunca se sabe. Mas assim que eles saem ela volta a ouvir a estática na rádio.
Quando anda na rua, ou nos transportes públicos, a senhora que ouve estática na rádio leva um walkman, onde só ouve estática. Por vezes, as pessoas que se sentam ao lado dela no autocarro reparam e fazem um ar surpreso. Ela não repara quando eles reparam. Fecha os olhos e tudo o que vê não é preto - é às pintas pretas e brancas. Depois muda a frequência do rádio, o som da estática muda e as pintas pretas e brancas mudam.
A senhora que ouve estática na rádio lê edições antigas de livros da Agatha Christie, comprados nos alfarrabistas do Quai de la Tournelle.

Jorge Moniz às 15:56 |