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segunda-feira, julho 12, 2004
Terra Brasilis (a segurança)
A primeira causa de morte no Brasil são as doenças do sistema circulatório. A segunda são os homicídios. No Rio de Janeiro são mortas anualmente 36 pessoas em cada 100 000, por comparação com 8 em New York ou 1 em Londres. As 6 detenções diárias na cidade obviamente não dão conta das ocorrências. Aliás, apenas 10 % dos casos de homicídio chegam a ser esclarecidos. É estranho, mas é verdade. Não há um caso de violência com destaque na comunicação social que não fique enrolado em contradições e polémicas durante muito tempo.
A corrupção na polícia, especialmente na polícia militar, muito mal paga, contribui para a manutenção da violência. Um em cada dez polícias está sob investigação, mas constitucionalmente não podem ser afastados da função pública. Isto leva a que nenhum criminoso tenha medo de ser preso. Só cumpre a pena na totalidade se quiser. Há fugas para todos os gostos, mesmo nas prisões de alta segurança. Numa delas um condenado foi visitado pela ex-mulher que lhe comunicou estar grávida de outro homem. Minutos depois estava enforcada no cinto do seu ex-marido. Dentro de uma cela numa prisão de alta segurança.
A economia paralela dos gangs não exclui de forma nenhuma as prisões. Numa em S. Paulo estima-se que sejam movimentados 5 milhões de reais por mês. A polícia e os políticos descobriram que os telemóveis são uma ferramenta muito utilizada pelos prisioneiros e estavam nesta altura a ser instalados nalgumas prisões aparelhos electrónicos que bloqueiam a recepção de rede de telemóveis. Não, não é mais fácil confiar na revista das visitas aos detidos para impedir a entrada dos telemóveis. A corrupção dos guardas prisionais é bastante elevada.
Também é impressionante a facilidade com que se cometem crimes violentos. No final do ano de 2001, o Presidente Fernando Henrique Cardoso anunciou uma baixa de 20 % no preço da gasolina à saída da Petrobrás, que se deveria converter a curto prazo numa diminuição semelhante para o consumidor. Nos dias seguintes a gasolina nos postos não baixou, porque os vendedores alegavam que nos reservatórios ainda tinham combustível comprado ao preço mais elevado. Mas mais tarde, enquanto numas cidades o preço já tinha baixado, noutras mantinha-se. Começou-se a desconfiar de existência de um cartel entre as gasolineiras. O escândalo rebentou com a Globo a divulgar conversas telefónicas entre responsáveis de gasolineiras em que combinavam preços. A partir daí, a polícia colocou então um procurador a chefiar a investigação do caso. Semanas depois é morto. E não passou muito tempo até se descobrir o assassino: um polícia que confessou ter sido contratado pelas gasolineiras.
Jorge Moniz às 23:07 |
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