(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



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o passado

 
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segunda-feira, julho 12, 2004


Terra Brasilis (a segurança)

A primeira causa de morte no Brasil são as doenças do sistema circulatório. A segunda são os homicídios. No Rio de Janeiro são mortas anualmente 36 pessoas em cada 100 000, por comparação com 8 em New York ou 1 em Londres. As 6 detenções diárias na cidade obviamente não dão conta das ocorrências. Aliás, apenas 10 % dos casos de homicídio chegam a ser esclarecidos. É estranho, mas é verdade. Não há um caso de violência com destaque na comunicação social que não fique enrolado em contradições e polémicas durante muito tempo.

A corrupção na polícia, especialmente na polícia militar, muito mal paga, contribui para a manutenção da violência. Um em cada dez polícias está sob investigação, mas constitucionalmente não podem ser afastados da função pública. Isto leva a que nenhum criminoso tenha medo de ser preso. Só cumpre a pena na totalidade se quiser. Há fugas para todos os gostos, mesmo nas prisões de alta segurança. Numa delas um condenado foi visitado pela ex-mulher que lhe comunicou estar grávida de outro homem. Minutos depois estava enforcada no cinto do seu ex-marido. Dentro de uma cela numa prisão de alta segurança.

A economia paralela dos gangs não exclui de forma nenhuma as prisões. Numa em S. Paulo estima-se que sejam movimentados 5 milhões de reais por mês. A polícia e os políticos descobriram que os telemóveis são uma ferramenta muito utilizada pelos prisioneiros e estavam nesta altura a ser instalados nalgumas prisões aparelhos electrónicos que bloqueiam a recepção de rede de telemóveis. Não, não é mais fácil confiar na revista das visitas aos detidos para impedir a entrada dos telemóveis. A corrupção dos guardas prisionais é bastante elevada.

Também é impressionante a facilidade com que se cometem crimes violentos. No final do ano de 2001, o Presidente Fernando Henrique Cardoso anunciou uma baixa de 20 % no preço da gasolina à saída da Petrobrás, que se deveria converter a curto prazo numa diminuição semelhante para o consumidor. Nos dias seguintes a gasolina nos postos não baixou, porque os vendedores alegavam que nos reservatórios ainda tinham combustível comprado ao preço mais elevado. Mas mais tarde, enquanto numas cidades o preço já tinha baixado, noutras mantinha-se. Começou-se a desconfiar de existência de um cartel entre as gasolineiras. O escândalo rebentou com a Globo a divulgar conversas telefónicas entre responsáveis de gasolineiras em que combinavam preços. A partir daí, a polícia colocou então um procurador a chefiar a investigação do caso. Semanas depois é morto. E não passou muito tempo até se descobrir o assassino: um polícia que confessou ter sido contratado pelas gasolineiras.

Jorge Moniz às 23:07 |