(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



morder
o passado

 
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quinta-feira, setembro 09, 2004



Adormeço finalmente, contagiada pela tua respiração. Lenta. Tranquilo. Da mesma forma que os espirros e os bocejos contagiam a pessoa ao lado, adormeço melhor ao som da tua respiração adormecida. Sem querer, vou inspirando e expirando com a mesma cadência, com a mesma profundidade. As tuas. Olho-te as mãos aninhadas debaixo do rosto uma última vez e baixo as pálpebras...
A meio da noite, acordo com o teu acordar (tinha de haver o revés). Adivinho-te o brilho nos olhos enquanto me dizes baixinho "sonhei com o teu sorriso". Logo tu que não tens memória visual, que nunca sabes dizer se alguém tem rosto alongado ou redondo, como é a forma do cabelo e até a cor dos olhos às vezes te passa despercebida. Tens boa memória, sim, para a forma das mãos, dos dedos e das unhas dos outros. Mas esta noite, enquanto dormias, viste claramente o meu sorriso aberto. Eu queria oferecer-te agora mesmo um dos verdadeiros, reais, genuínos, mas não posso, ainda não. Só quando eu já não pensar nisso. Para já, fica-te com as faíscas que os meus dedos criam ao passear pelo teu peito antes de não adormecermos.

Jorge Moniz às 22:43 |