quinta-feira, setembro 09, 2004
Adormeço finalmente, contagiada pela tua respiração. Lenta. Tranquilo. Da mesma forma que os espirros e os bocejos contagiam a pessoa ao lado, adormeço melhor ao som da tua respiração adormecida. Sem querer, vou inspirando e expirando com a mesma cadência, com a mesma profundidade. As tuas. Olho-te as mãos aninhadas debaixo do rosto uma última vez e baixo as pálpebras...
A meio da noite, acordo com o teu acordar (tinha de haver o revés). Adivinho-te o brilho nos olhos enquanto me dizes baixinho "sonhei com o teu sorriso". Logo tu que não tens memória visual, que nunca sabes dizer se alguém tem rosto alongado ou redondo, como é a forma do cabelo e até a cor dos olhos às vezes te passa despercebida. Tens boa memória, sim, para a forma das mãos, dos dedos e das unhas dos outros. Mas esta noite, enquanto dormias, viste claramente o meu sorriso aberto. Eu queria oferecer-te agora mesmo um dos verdadeiros, reais, genuínos, mas não posso, ainda não. Só quando eu já não pensar nisso. Para já, fica-te com as faíscas que os meus dedos criam ao passear pelo teu peito antes de não adormecermos.
Jorge Moniz às 22:43 |
|