(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



morder
o passado

 
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quinta-feira, janeiro 18, 2007


As palavras e as guitarras
(falanges enferrujadas - escrever sobre a dificuldade em escrever é, no momento, difícil. Escrevo, apago, mudo, corrijo)

Que factores fazem com que em certas alturas haja uma maior facilidade em alinhar palavras do que noutras? Há a idade. Há a estabilidade emocional, ou a falta dela. Há a disponibilidade de tempo. Há a leitura de outras palavras. E há a vontade. Sendo que a vontade de escrever não implica que haja inspiração para o fazer. Já o contrário tende a ser verdade.

Na época áurea desta quitanga,
[repare-se no ego do autor]
eu encontrava-me a viver sozinho, numa cidade estranha, todos os dias aprendendo muito de uma cultura diferente, viajando de transportes públicos o que me permitia ler um livro por semana. Caldo apurado para escrever muito.
Neste momento tenho um emprego absorvente, por mérito próprio,
[mérito dele, o emprego]
portanto a menos que me ponha a escrever sobre questões técnicas ou organizacionais, há pouca fonte de inspiração.

A tese deste texto é que devemos forçar essa inspiração. Criar as condições. Há uns tempos conheci alguém que trabalha em música e ficou chocado ao saber que tendo eu tido formação e gosto, há muito tempo não limpo o pó ao teclado nem o verdete às cordas. A resposta comum é que as idades vão evoluindo, as responsabilidades mudam, o tempo disponível diminui. Irrelevante. Com uma boa gestão do tempo e vontade, conseguimos manter as actividades extra que nos dão um prazer particular. Basta fugir dos pretextos para a preguiça. E dos adiamentos.

Jorge Moniz às 22:03 |