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quinta-feira, janeiro 25, 2007
Post chato
Entre nós e o mundo existem duas massas de tecido orgânico branco, chamadas olhos. Para vermos as verdadeiras formas e cores das coisas, precisaríamos de os arrancar, porque não sabemos se o que eles nos transmitem é verdadeiro. Os olhos são sólidos, a informação não entra directamente em nós. Foi nesta linha que Platão desenvolveu a alegoria da caverna: um grupo de homens preso dentro de uma caverna, com vista apenas para a parede do fundo onde vêm silhuetas distorcidas e monocromáticas do mundo lá fora. Se eles estivessem ali desde nascença, o mundo era assim para eles: sombras, bidimensional. E se um deles fosse libertado, viesse cá fora e voltasse, seria considerado um louco pelos outros, ao ouvirem as suas descrições. Aliás, isto está tudo no 2001 de Stanley Kubrick ou Arthur C. Clarke. E além da alegoria da caverna, com as cenas de imagens psicadélicas que simbolizam a verdadeira cara do universo, há a teoria da reminiscência, segundo a qual depois de morrermos atingimos a sabedoria total. Ao voltarmos a nascer esquecemos tudo e durante a vida não aprendemos, mas vamos lembrando (daí o ar altivo do feto sabedor que paira sobra a Terra no fim). Tudo resumido numa frase, as aparências podem iludir. Há um episódio da Twilight Zone sobre isto: um casal que não percebe onde está e descobre que tudo à volta são objectos falsos, até descobrirem que foram raptados por extra-terrestres gigantes e agora são os brinquedos de uma criança, numa espécie de cidade Lego. Ora quando alguns de nós, tal como a Sofia e o professor Alberto, desconfiamos que não passamos de personagens de um criador, de marionetas, instala-se a dúvida sobre a atitude a tomar: soltamos os braços e deixamo-nos levar pelos movimentos dos cordéis, ou tentamos controlar nós os acontecimentos? E neste segundo caso, o que pensamos fazer de livre vontade não poderá estar afinal também escrito?
Jorge Moniz às 22:35 |
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