(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



morder
o passado

 
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domingo, janeiro 21, 2007


Trânsito lento
Rotinas. Algo na sua infância o devia explicar, mas era viciado em rotinas. Pendurava a roupa por zonas no estendal, as meias de um lado, as camisas do outro, os lençóis no meio. Contava sempre as meias ao tirar a roupa da máquina, para verificar se estavam em número par. Os talheres na mesa eram alinhados ao milímetro, as cadeiras sempre encostadas. O pó era limpo diariamente. O caminho para o trabalho era sempre o mesmo, a padaria também, os dois pães de centeio matinais idem.
Nada perturbava a rotina, excepto certa caixa de hipermercado, de pele branca, olhos azuis e ar de quem não devia estar ali. Fazia-o ir às compras quando não precisava de nada, apenas para ver se ela lá estava. Nesse caso, escolhia sempre a fila dela, mesmo que demorasse mais tempo.
No dia em que na padaria não houve, pela primeira vez em cinco anos e três meses, os dois pães de centeio, ele respirou fundo e decidiu tentar meter conversa com ela na altura de pagar as compras que ainda não tinha decidido fazer. Enfiou-se no carro, passou pela primeira, pela segunda, pela terceira rotunda no caminho para o hipermercado. Na quarta rotunda um Honda Civic entrou-lhe pela porta dentro.

Jorge Moniz às 10:58 |