(mordidas mansas)














(por vezes bravas)



morder
 
os legumes
e o cacau,
à beira-mar,
em dias
e dias
de enganos;
afundando
ao vento
cogumelos
duns e doutros;
sem nada
de nada
ao colo
e recortando
fotos
de cães.

sacudindo
dias
de conversas
no camarote.

comendo
causas,
políticas
e erros
de um lado
e do outro;
fixando
de repente
o que tem
a praia:
letras
e girafas.



morder
o mundo

 
todos os minutos
todas as horas
todas as semanas
em francês
e em inglês



morder
os sons

 
em 5 minutos
debaixo de água
conhecendo
lendo
sentindo
e comprando



morder
as imagens

 
pessoais
amadoras
profissionais
em movimento
brevemente
aqui



morder
as palavras

 
sentidas
no escuro
em busca
de tempo



morder
o passado

 
<< hoje



e-mail

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terça-feira, julho 29, 2003



Nos dias em que o acordar é incómodo, o banho é turvo, o pequeno-almoço é indigesto, a roupa é curta, a rua é muito e tudo é longe,

A minha solidão
não é uma invenção
para enfeitar noites estreladas...

...Mas este querer arrancar a própria sombra do chão
e ir com ela pelas ruas de mãos dadas.
(...)
José Gomes Ferreira

nesses dias desapareço.

Jorge Moniz às 11:09 |




Porquê?!

Jorge Moniz às 08:28 |



segunda-feira, julho 28, 2003



Depois dos processos às tabaqueiras, muitos a raiar o ridículo, chegou a vez da indústria alimentar.
Houve a MacDonalds a admitir que as suas batatas fritas têm gordura de vaca e a desembolsar 12 milhões e agora a Kraft (das Oreo por exemplo) lançou uma campanha de esclarecimento sobre a obesidade, para evitar os processos dos seus clientes de maior peso. Nas escolas do Estado de New York, passam a ser proibidos refrigerantes e doces.

Nos próximos capítulos teremos uma vítima de assalto à mão-armada a processar a Browning, por exemplo.
Eu próprio já estou a pensar que quando me cortar a fazer a salada será melhor processar uma cutelaria...

Jorge Moniz às 16:31 |




Palavras fáceis, difíceis, objectivas, abstractas, curtas, esdrúxulas, honestas, mentirosas, elegantes, gordas, que revelam, que escondem, que dizem tudo, que dizem nada.

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?


Eugénio de Andrade

Jorge Moniz às 15:37 |




Anda aí uma música reciclada dos anos 30:

Qu'est-ce qu'on attend pour être heureux?

Ora aqui está uma pergunta interessante...
Como é costume, muito mais interessante do que qualquer resposta...

Jorge Moniz às 12:31 |




Mais uma excelente dica do Francisco José Viegas:
Na praia da Comporta está uma tenda da livraria Fonte de Letras de Montemor-o-Novo. Genial! Já estávamos habituados a poder comprar o que apetece na praia (um gelado, uma bebida fresca, uma bola de Berlim a escorregar em creme,...). Mas ainda não se tinham lembrado de outra coisa que pode fazer falta: um livro. Se acabamos a meio da manhã o livro que trouxemos de casa, ou se está demasiado vento para o jornal, vai-se ali à tendinha do lado!

Jorge Moniz às 10:58 |



domingo, julho 27, 2003



Está a chover lá fora...
Isso estragou-me a manhã de domingo, que normalmente consiste numa ida até ao parque para um jogging mais demorado que o habitual.
Em busca de alternativas, acabei finalmente o livro que andava a ler. Como sempre, não me apetece começar logo com o seguinte sem deixar assentar a poeira do anterior.
Por isso meti o cd dos Mogway que se dá muito bem com o barulho da chuva.
E fui vasculhar no fundo do armário o cabo para me ligar excepcionalmente a partir de casa.

Através dos vidros molhados os prédios lá fora parecem desfocados... A vingança das curvas sobre as rectas do barão de Haussmann...
Mas como eu sei que infelizmente não é possível as linhas das casas amolecerem e encurvarem-se, não serei eu o desfocado...?


Jorge Moniz às 11:27 |



sexta-feira, julho 25, 2003



De Castelo Branco para todo o mundo (via Paris), as fotos do puto!
(antecedidas de texto do pai)

meus caros, aqui vao as primeiras fotos do diogo divulgadas pela internet. foram tiradas na semana passada.

para os mais desatentos, a terceira foto é dele a tentar arrancar a pata ao galo badalo (um dos desportos favoritos do puto).











Jorge Moniz às 08:37 |



quinta-feira, julho 24, 2003



Ele viu-a a primeira vez na estação dos comboios. Ficou logo impressionado com a sua beleza. Os cabelos castanhos claros aos caracóis e os lindos olhos azuis. Que eram os piores, segundo lhe diziam. Ela andava na mesma escola que ele e o pretexto para se conhecerem foi a queda inadvertida da bolsa dos lápis. Ele precipitou-se a apanhá-la e a devolvê-la. Ofegante, balbuciou algumas palavras, gaguejou, corou e foi-se embora. Não sem antes ficar a saber o nome dela.
Em algumas outras ocasiões se encontraram e ele fez a mesma figura. A beleza dela era ofuscante, embaraçante. Por isso arranjou uma artimanha para afastar o padre do confessionário, quando ela se preparava para falar dos seus puros pecados de adolescente. Tomou o lugar do prior e falou com ela. Como não podia ver a sua face com nitidez, pôde abrir o coração. Ela respondeu que o achava um rapaz muito simpático e até atraente, mas não o amava. Ele disse que não se importava de esperar. Iria para perto de casa dela todas as noites, até ela abrir a janela. Na noite de ano novo desistiu. Dias depois, ela foi ter com ele e não foi preciso dizer nada.
Passavam o tempo juntos. Às escondidas do pai dela, naturalmente. Corriam um atrás do outro pelas searas e, ofegantes, sujavam as caras, e o que mais viesse no caminho dos pingos, ao comerem as amoras apanhadas por ali.
Até que ele teve de ir para o exército. Mas não perderam o contacto. Ele escrevia-lhe cartas a uma velocidade tal que tinha permanentemente cãibras nos dedos da mão direita e o dinheiro mal chegava para o papel e para a tinta. A certa altura as cartas começaram a ser devolvidas: 'Endereço desconhecido', dizia o carimbo. Escreveu para outras pessoas, vindo a saber que a família dela se tinha mudado, ninguém sabia bem para onde. Não desistiu. Quando voltou a casa, inquiriu todas as pessoas da aldeia. Tentou escrever a outros familiares dela, mas só sabia as cidades onde habitavam e também estas cartas foram devolvidas.
O tempo passou e ele seguiu a sua vida, agora na cidade. Quando a sua mãe telefonava, a mulher que atendia era sempre outra e nunca se notava algum amor na voz dessas amantes.

Muitos anos depois, ele voltou à aldeia para acompanhar, na sua última viagem, o seu mestre. Num conjunto de velhas fitas de cinema que lhe deixou ainda palpitavam as filmagens experimentais da chegada de um comboio à estação, de onde descia uma jovem de cabelos castanhos claros aos caracóis e lindos olhos azuis. Que eram os piores, segundo lho tinham dito há muito tempo. Foi ao rever a fita que se lembrou da história contada pelo seu mestre:
"Um soldado apaixonou-se por uma princesa, mas ela não se mostrou muito impressionada e disse-lhe: 'Passa cem dias e cem noites debaixo da minha varanda no palácio. Se aguentares tanto tempo, casarei contigo'. O soldado passou a viver ao sol, ao frio, à chuva, ao vento e, ao fim de sessenta dias, tinha uma febre que o fazia delirar, os pés permanentemente encharcados e uma dor de cabeça latejante. Com mais algumas semanas de melhor tempo, o soldado recuperou bastante. Ao nonagésimo nono dia estava em perfeita forma física e foi então que se foi embora."
Ele era muito jovem e cego pelo amor quando ouviu esta história e não percebeu a atitude do soldado. Agora, à distância de muitos anos, compreendeu tudo. Assim como o soldado tinha compreendido. Mas era muito tarde. Tinha perdido uma vida agarrado a uma ilusão, para só agora perceber que ela (a rapariga da estação ou a princesa, pois são uma e a mesma pessoa) não se apaixonara por ele (o rapaz do cinema ou o soldado, é indiferente), mas sim pelo amor que ele tinha por ela.

Foi há mais de dez anos que vi este filme e na altura fiquei com aquela sensação de estar apaixonado por ninguém em especial. Não me lembro quem disse que amamos em permanência alguém que não existe. Ocasionalmente encontramos boas aproximações a esse ideal e julgamos amar essas mulheres. A ilusão pode manter-se muito tempo, até a vida toda, não faz grande diferença. Porque as ilusões só o são quando acabam.

Jorge Moniz às 10:59 |




"Rotina

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.
"

Eugénio de Andrade

Jorge Moniz às 08:31 |



quarta-feira, julho 23, 2003



Há quanto tempo:
não brinco com um gato?
não dou uma gargalhada?
não pego numa viola?
nem toco num teclado?
não como peixe grelhado?
nem um queijo fresco?
não entro no mar?
nem mesmo o vejo?

Jorge Moniz às 12:18 |




Formas de sentir o verbo ter.
Quando alguém diz "és minha" é culpado de possessibilidade? De tratar a outra pessoa como sua propriedade?
Ou quando diz "faço tudo o que quiseres" é culpado de falta de vontade própria?
Não creio. São apenas formas, fórmulas que usamos quando o simples "gosto muito de ti" ou o "adoro-te" já são pequenos e o "amo-te" continua a enrolar-se na língua.
(de repente fiquei a ouvir "O Problema de Expressão" dos Clã)
Depois há claro umas criaturas que levam isto à letra: quando a Maria Callas se queixava ao Onassis de ele já não lhe oferecer flores, ele respondia: "Mas tu agora és minha, já não faz sentido! Para que é que eu iria oferecer flores a mim próprio?"
E "vou ter contigo" é apenas a versão condensada de "vou ter um bom momento passado em tua companhia".

Jorge Moniz às 11:03 |




Correndo o risco de andar sempre a referenciar o mesmo blogue, remeto-vos de novo para o Pacheco Pereira. Anda-se a revelar numa escrita muito fresca em temas não políticos. Desta vez sobre os telemóveis. Um texto muito lúcido.

Jorge Moniz às 10:52 |






Não fui eu!


Jorge Moniz às 09:57 |



terça-feira, julho 22, 2003



As palavras mentem mais do que os gestos...




...mas os gestos calam mais do que as palavras.

Jorge Moniz às 14:49 |




Num filme qualquer. Um casal de namorados sentados na cama a comer pipocas e a ver televisão.
Ela – Sabes uma coisa... quando estou a fazer as sandes para o meu pai tenho vómitos.
Ele – Não admira, com aquelas porcarias que ele come!
Ela – Não percebeste nada do que eu disse!
Tirou o som da televisão e ficaram os dois calados. Pensei: aí vem mais uma daquelas histórias quando-digo-que-tenho-sede-não-é-para-me-trazeres-um-copo-de-água-é-para-me-perguntares-por-que-é-que-tenho-sede.
Na cena seguinte está ela a fazer uma ecografia:
Ela – Mas não pode ser, o Sr. Doutor sabe que eu tomo sempre a pílula.
Sr. Dr. – E não teve nenhuma gastroenterite?
Ela – Não.
Sr. Dr. – E não tomou outros medicamentos?
Ela – Não.
Sr. Dr. – Nenhum antibiótico?
Ela – Não.
Sr. Dr. – Não vomitou?
Ela – ...

Jorge Moniz às 10:33 |





"Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.
"

Eugénio de Andrade


Entrámos na água ao mesmo tempo. Avançámos lentamente até ela nos cobrir as pernas, a cintura, o tronco. E ficámos frente a frente em silêncio, à distância de uma respiração. Apenas ouvindo o som que a água faz quando deixamos os braços a vaguearem livres quase à superfície. Ninguém nos podia ver. Com a ponta dos dedos desenhei a curva dos teus ombros molhados, espalhando as gotas de água. Um raio de lua acariciou-te a face. Sorriste-me. Fugiste-me. Nadaste até eu te perder no escuro. Onde estás, sereia?

Jorge Moniz às 08:58 |



segunda-feira, julho 21, 2003



Nova chatice no enetation (e agora metade do pessoal deles esta' de férias!)... Os contadores estão com falsos zeros...
O chato de mudar para outro fornecedor é que se perdem todos os comentarios passados...

Jorge Moniz às 16:14 |




Há momentos fugidios que não têm nada a ver connosco e, no entanto...

Estou na fila para pagar na FNAC. Na caixa está uma menina que já conheço de vista, graças à sua boa disposição permanente, de olhos azuis cintilantes e sorriso constante. Mantém um ritmo incrível ao atender os clientes, trocar umas palavras simpáticas e manter uma conversa com o colega da caixa ao lado. Há então uma cliente dos seus 40 anos, elegante (e esta descrição é importante, senão vocês ficariam a pensar tratar-se de uma velhinha simpática), que ao despedir-se diz (e não traduzo para não estragar tudo):"Vous êtes un vrai rayon de soleil."
Mal se nota uma ligeira quebra no seu alegre ritmo enquanto meio corada agradece ("Vous êtes très gentille") e diz para o colega "Ouviste o que esta senhora disse?", repetindo o piropo (e aqui "piropo" é uma palavra muito mais adequada do que "elogio", porque brincalhona).

... o sorriso que não escondemos naquele instante continua depois por muitos instantes, mais escondido.

Jorge Moniz às 12:34 |




O Pacheco Pereira, que muito tem escrito sobre o mundo dos blogues, resumiu agora tudo desta maneira:

"Nos blogues ...

… as pessoas zangam-se muito, são muito piegas, são malcriadas, são gentis, são espertas, são espertinhas, são parvas, copiam, fazem de conta que não copiam, irritam-se, reconciliam-se, cuidam muito da sua identidade, dão-se todas aos estranhos, representam, representam-se, são azedas, são poucas vezes alegres, são tristes, são tristonhas, são fúteis, são totalmente fúteis, têm interesse, têm interesses, têm egos gigantescos, têm egos pequeninos, têm que “dizer-qualquer-coisismo” , deixam cair muitos nomes, deixam cair muitos livros, parece que lêem muito, lêem muito, não lêem quase nada, nunca vêem televisão, tem graça, são engraçadinhas, têm tribos, têm fúrias, têm territórios, estão sozinhas, estão tanto mais sozinhas quanto mais acompanhadas, têm alguns pais, começam a ter filhos, têm maridos, não têm amantes, têm “o que escrevo é para ti”, têm “o que escrevo é só para ti”, têm “o que escrevo é só para ti”, mas é só para mim , ou para o outro(a), não têm muita paciência, têm pressa de chegar a algum lado, têm a esperança de chegar a qualquer lado, estão convictos que não vão chegar a lado nenhum, têm quereres, têm birras, são meli-melo, são assim …

… porque se calhar é assim na vida toda.
"

e a mim apeteceu-me fazer um Editorial do Homme:

Quando criei este blogue, foi a pensar exclusivamente em vocês (que sabem quem são), para mantermos um contacto colectivo não possível presencialmente e limitado com o e-mail. Na altura muito pouca gente conhecia o conceito, mas eu também nunca quis isolar o Homme (para isso há uma opção de confidencialidade no blogger).
Nos últimos tempos, com a mediatização dos blogues (e consequente explosão do seu número), nasceram os tais directórios e índices, onde eventualmente o Homme apareceu, sem eu andar a fazer publicidade (tenho mais necessidade de escrever do que de ser lido...). Isto tem-nos trazido algumas novas visitas, que são muito bem vindas. Nunca somos demais quando apetece morder!

Jorge Moniz às 12:29 |



quinta-feira, julho 17, 2003




"É tão fácil dizer que saem dos olhos das mulheres andorinhas verdes
ou chamar à lua a caveira voada da flâmula dum navio pirata!
Mas a poesia - onde está?
A poesia que transforma de repente a música em lâmina
para romper a noite até à solidão dos archotes
que escurecem mais e mais
este abismo absurdo
sem astros de céu vivo
onde as pedras apodrecem
e as andorinhas verdes não saem dos olhos das mulheres?
Mas a outra poesia - onde está?
Essa esperança convicta
de teimar na certeza do nada
com explicações
de papoilas
e esqueletos a abraçarem-se
no amor final já sem sentido de bandeiras?
Sim. Onde está?
Que palavra abre
para além da luz secreta
que os dedos dos mortos acendem no perfume das flores?
Sim. Onde está?
- Poesia de rasgar pedras.
Poesia da solidão vencida.
Poesia das pombas assassinadas.
Poesia dos homens sem morte.
"

José Gomes Ferreira

Jorge Moniz às 13:49 |




Desta vez não tenho nada a apontar.
Ontem nos destinos de férias de um programa da France3, houve uma reportagem de um quarto de hora em Lisboa.
Meteu a Marisa (ou Mariza?) como excelente guia histórico de Alfama, da Mouraria, do Castelo.
Meteu uma condutora do eléctrico 28 que trabalha de dia e de noite porque gosta da variedade de pessoas que encontra à noite (acrescentou-se que a noite lisboeta é uma das mais "movidas" da Europa, Barrio Alto, etc... - que mania de usarem palavras espanholas a pensarem que são iguais às nossas!).
Meteu o Marquês de Fronteira a falar dos azulejos do seu Palácio, da história da família e das reuniões secretas com o Partido Comunista antes do 25 de Abril.
Meteu a Grândola, Vila Morena.
Meteu a Expo98.
Meteu um historiador em Belém a mostrar o caminho da saída das caravelas.
Fiquem com o lead que está na página do "Des Racines & des Ailes" no site da France3:

"Lisbonne : la métamorphose

En moins de vingt ans, cette ville de deux millions d'habitants s'est totalement métamorphosée. Aujourd'hui, elle est même devenue l'une des villes les plus branchées d'Europe, préservant les traces d'un passé prestigieux, Lisbonne se tourne définitivement vers le troisième millénaire. Visite guidée...
"

Jorge Moniz às 12:48 |




Se eu escrever
umas frases
umas ideias
ou mesmo
umas simples palavras
sem nexo aparente
(cadeira
sol
verde
sim)
e mudar de linha,
no máximo,
todas as quatro palavras...
isto chama-se
poesia?
(a avaliar por muitos blogs que andam por aí...)

Jorge Moniz às 08:38 |



quarta-feira, julho 16, 2003



Isto já parece clima tropical: ao fim do dia quente vem a tempestade. É bom abrir as janelas (com as portadas fechadas!) para entrar o barulho da chuva, o ar fresco da chuva, o cheiro da chuva (e a trovoada também, por arrastamento).
Menos sorte teve o pessoal perto de Bordéus: esta noite houve parques de campismo devastados, dezenas de feridos e milhares de pessoas que passaram o resto da noite em escolas e afins, com imediato acompanhamento psicológico. O quê? Acompanhamento psicológico só por causa de um temporal e uma noite no chão da escola? Qualquer dia somos umas flores de estufa sem poder sofrer emoções fortes: o Benfica sofre um golo - apoio psicológico; a namorada está com um atraso de alguns dias - apoio psicológico; a nota do exame só sai daqui a uma semana - apoio psicológico; o chefe dá um raspanete - apoio psicológico.

Jorge Moniz às 11:03 |






A dona do Bagdad Café mostra cheia de nostalgia o seu álbum de recordações com cartas e postais enviados pelos franceses e alemães que um dia visitaram o local e ficaram amigos dela. São quem mais aprecia o café no meio do deserto do Mojave. Por isso ela meteu os anúncios para a venda no Le Monde, com a principal condição de o novo proprietário respeitar a tradição do local. "I'm calling you." A música mais hipnótica que já apareceu num filme...

Jorge Moniz às 10:39 |



terça-feira, julho 15, 2003



34 °C no local de trabalho... bati o recorde do Rio de Janeiro!
Estranho como ainda não deu em greve...

Jorge Moniz às 16:51 |




Este fim-de-semana foi a grande partida para as férias. No sábado à tarde havia 800 km de engarrafamentos sob uns 38 ºC: os portageiros ofereciam garrafas de água aos automobilistas. Nos desfiles militares do 14 de Julho, os tanques até esburacaram os Campos Elísios, devido ao alcatrão derretido. Que também causou uma queda impressionante do 2º classificado da Volta a França (fémur, pulso e cotovelo partidos).
Ontem à noite estavam uns 30 °C na rua (pouco menos dentro de casa; há alturas em que é mais confortável viver sozinho, se me faço entender...), o que contribuiu para esperar durante o atraso de uma hora o fogo de artificio em noite de lua cheia. O oficial, porque os pequenos foguetes particulares foi durante toda a noite (consequentes alarmes de carros incluídos).

O canal Arte também tem uma espécie de caça ou tesouro, ou pedipaper, mas em versão cidades europeias. O programa deste sábado era em Lisboa. Há dois casais (um alemão e um francês) que são separados e têm que se encontrar com algumas pistas. E depois procurar juntos um tesouro com um código para o abrir. Meteu Terreiro do Paço, Museu de Artes Decorativas, Panteão, Museu do Fado e Castelo (o tesouro eram as Chaves da Cidade no Castelo e o código era a data de nascimento da Amália). Pelo caminho lá pediam ajuda às pessoas na rua. Estão a ver as conhecimentos de línguas do pessoal de Alfama? Os cómicos dos alemães até perguntavam primeiro "fala alemão?"! Um PSP não sabia uma palavra de inglês ou francês... pensei que tinham mais formação que a 4ª classe dos GNR's... Agora mesmo mau aspecto deu a miúda do quiosque do turismo da Rua Augusta, que garantia que a foto de uma estátua que lhe mostravam era em Belém (um bocadito longe para ir a pé...). A estátua era a de S. Vicente nas Portas do Sol.
No próximo sábado é Sevilha.

A propósito, o Caça ao Tesouro original começou em 1981 com o formato que passou em Portugal (um apresentador que faz as provas pelos concorrentes), só que as provas se passavam por todo o mundo. O formato mudou passados uns anos quando esse apresentador desapareceu num rio numa floresta tropical.

As cerejas estão a 10 €.

Mas há pior: o meu vizinho de cima pôs-se a aspirar a casa às 8h da manhã de sábado.

Vamos nesta altura com 29,8 °C no gabinete... prevê-se uma tarde difícil...

Jorge Moniz às 13:40 |




Existem duas ilhas chamadas Diomedes. A Grande Diomedes e a Pequena Diomedes. A primeira tem uns 30 km2 e a segunda cinco vezes menos. Distam cerca de 3 km uma da outra, que no inverno se fazem bem a pé, por cima do gelo. Indo da maior para a menor, demore-se o tempo que se quiser, chega-se sempre um dia antes - entre elas passa a linha internacional de mudança de data, no meio do Estreito de Bering. Uma é russa, outra americana e naturalmente há família e amigos espalhados entre elas, até porque o Alasca só foi comprado pelos Estados Unidos à Rússia em 1867. Família e amigos que desde 1948 até há alguns anos não puderam manter contacto. Um muro de Berlim em gelo. Onde no verão se pescam caranguejos azuis de um metro de largura.

Jorge Moniz às 13:31 |




As surpresas finalmente espreitaram.
Uma, a do Manuel da Fonseca, está-me sempre a pedir para eu não a truncar e deixar aqui - um dia - todas as palavras. Talvez num Domingo me volte a sentar na cadeira para ver se o anzol é mordido...
A outra, do Sérgio Godinho, não é afinal um pôr-do-sol. Espero por quem amanhece, mas "não sei se dura sempre esse teu beijo, ou apenas o que resta desta noite".

Jorge Moniz às 13:29 |



sexta-feira, julho 11, 2003



Grande dica do Francisco José Viegas: para quem, como eu, devorou "O último cabalista de Lisboa", vai sair brevemente o novo livro do Richard Zimler: Hunting Midnight (ainda sem título português). É a historia de um descendente da mesma família Zarco, a morar no Porto na época das invasões napoleónicas. E vai haver mais livros na saga sefaradita!

Jorge Moniz às 17:27 |




O escandinavo ja' deu à costa (do Barreiro), mas muito discretamente, a uns 7 page downs daqui...

Jorge Moniz às 10:19 |



quinta-feira, julho 10, 2003



Mais uma vez no livro que ando a ler, a propósito da Guerra de 14-18:

"Pode ser – como o creio de bom grado – que nos outros países, entre os inimigos e até entre os aliados, esse curto-circuito do fadário tenha sido considerado, antes de mais nada, como uma catástrofe e grand malheur; expressão esta que, no decorrer da campanha, ouvimos frequentemente da boca de mulheres francesas, que, por sua vez, tinham a guerra no seu solo, nos seus quartos e nas suas cozinhas (...) Na nossa Alemanha, não há que desmenti-lo, predominava sobretudo o sentimento de enlevo, entusiasmo histórico, alegria de pôr-se em marcha, dispensa dos afazeres quotidianos, libertação de uma inércia generalizada que assim não podia continuar."

Não me apetece estar a pensar em todos os casos para ver se a generalização é abusiva, mas: os países mais afoitos para a guerra são aqueles que não estão habituados a tê-la em casa.
Quem morre longe é herói (até pela informação convenientemente filtrada ou deformada pelos militares e governantes, a bem da moral da nação em período bélico - até certo ponto compreensível).
Quem é invadido e sobrevive tem outra opinião.

Jorge Moniz às 17:17 |




Em bicos de pés.
Portugal quer à força toda participar nas grandes decisões, dar-se ar de ter uma dimensão e importância que não tem. Vamos então para o Iraque!
Há um pequeno problema: temos homens, mas não temos equipamento. Não faz mal: pede-se emprestado aos italianos que vão ser os nossos chefes lá. Eles recusam-se? Não faz mal: compramos 20 blindados novos à Iveco (empresa do italiano grupo Fiat...). Fica só por 500 000 contos. Vão ter uso depois de voltarem? Ainda é cedo para saber, mas não faz mal!
So é pena o Iraque ter tão pouco mar, senão podíamos estrear os novos submarinos. Quando eles chegarem.

Jorge Moniz às 17:10 |



quarta-feira, julho 09, 2003



O rapaz tem andado meio nómada, dormindo em sofás por aqui e por ali, mas tudo isso termina hoje.
Acabamos de perder um correspondente na Suécia, que está de volta ao país das amoras bravas...

Jorge Moniz às 10:49 |






"O meu país sabe as amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.
"

Eugénio de Andrade



Jorge Moniz às 10:30 |




O desporto nacional dos franceses é os saldos. As senhoras mais radicais até metem um dia de férias, para o passarem inteirinho nas lojas. Começam a 30 % e chegam aos 70 %. E não é só no vestuário: também mobiliário, electrodomésticos, etc. Há uma imagem de um hipermercado a levantar as portas metálicas e as pessoas a rastejarem por baixo assim que têm espaço e a correrem para os produtos desejados. Um tipo estica os braços para abraçar duas televisões e ainda mete uma perna em cima de outra para tentar evitar que o outro que acaba de chegar lhe toque. Gritos, empurrões, etc.
Lojas como a YSL, a Hermès e afins mandam convites a alguns clientes para os primeiros dias (nem pensar em meter cartazes a dizer "saldos", não é bem e não queremos multidões). A partir daí, porteiros limitam as entradas das pessoas que fazem fila às dezenas na rua. Quem mora nos arredores até pede a um amigo para lhe ir guardar vez para a fila às 7 da manhã.

Jorge Moniz às 10:29 |



terça-feira, julho 08, 2003



Mas alguém minimamente inteligente tinha acreditado?

"A Casa Branca admitiu pela primeira vez que o Presidente George W. Bush não deveria ter afirmado no seu discurso sobre o Estado da União, em Janeiro, que o Iraque estava a tentar comprar urânio em África para reconstruir o seu programa nuclear, avança a edição de hoje do "Washington Post"."
in Público

Jorge Moniz às 14:45 |




Lembrei-me dos tempos de antigamente em que estas coisas seguiam via postal e, como tal, também podiam chegar um dia depois:

"Disseram-me um dia Rita, põe-te em guarda
aviso-te, a vida é dura, põe-te em guarda
cerra os dois punhos e andou, põe-te em guarda
eu disse adeus à desdita
e lancei mãos à aventura
e ainda aqui está quem falou

Galguei caminhos de ferro
palmilhei ruas à fome
dormi em bancos à chuva
e a solidão não erre
se ao chamá-la o seu nome
me vai que nem uma luva

Andei com homens de faca
vivi com homens safados
morei com homens de briga
uns acabaram de maca
e outros ainda mais deitados
o coveiro que o diga

O coveiro que o diga
quantas vezes se apoiou na enxada
e o coração que o conte
quantas vezes já bateu p'ra nada

E um dia de tanto andar
eu vi-me exausta e exangue
entre um berço e um caixão
mas quem tratou de me amar
soube estancar o meu sangue
e soube erguer-me do chão
(...)
"
Sérgio Godinho

Jorge Moniz às 10:01 |



segunda-feira, julho 07, 2003



Vi na televisão as siamesas iranianas a dizerem o que iam fazer nos últimos momentos antes de iniciarem a cirurgia para as separar: ler o Corão para se sentirem mais perto de Deus. Entre sorrisos acrescentaram mais algumas declarações, sempre com referências à sua fé. É sabido que os muçulmanos são muito mais praticantes da sua religião que os cristãos. Por "praticar" não entendo aqui as missas, orações e afins: entendo viver de acordo com a sua fé, o que muitas vezes se aplica menos a quem faz as actividades regulamentares assiduamente. E nos tempos que correm é refrescante ver duas mulheres muçulmanas com dois grandes sorrisos nos lábios apesar dos corações nas mãos. Digo falarem, mas foi quase só uma que falou. Porque, de facto, nos siameses há sempre um "dominante" e um "dominado". E a separação pode ser fatal, pelo menos para o dominado. E então lembrei-me.
Era uma vez dois irmãos gémeos, não siameses, que se interessavam pelos que o eram. Desde pequenos coleccionavam todos os recortes de jornais relacionados. Quando cresceram, decidiram dedicar-se ao cinema. E escreveram, realizaram, interpretaram um filme chamado Twin Falls Idaho.



Este é o cartaz de cinema mais genial que eu já vi. Há filmes que no fim dão uma volta à história e nos fazem querer voltar ao início para rever tudo. Este faz-nos voltar ao cartaz. Porque quem não sabe ao que vai não repara bem nele.

E o filme mostra que apesar de tudo há o humor - "Maybe I'll call you when I'm single."
E que apesar de tudo há a solidão - "The minute I wake up and the minute I fall asleep - those two minutes I get lonely. I try to toss them before they get ahold of me."
E que um passeio de bicicleta numa ravina pode ser a metáfora mais bela para o que não se pode mostrar.

"In time, every sad ending becomes happy. It's just a sad ending because the author stops telling the story."

Jorge Moniz às 17:16 |




Há algum tempo que não aparece aqui uma listagem ligeira de histórias ou notícias perfeitamente inúteis. Cá vai:

Começou neste fim-de-semana a 100ª Volta a França. Várias etapas deste ano são iguais às da primeira volta em 1903. Excepto as de montanha, que na altura não havia. Não dava muito jeito porque as bicicletas ainda demoraram uns anos até terem mudanças e mesmo travões! No fim da etapa desciam da bicicleta em andamento e abrandavam a corrida até pararem.

Televisão de férias: a maioria dos programas entram de folga e ficamos com versões best-of da temporada, ou com outros programas só para o verão. É também a ocasião de testar novos apresentadores. Entre os clássicos de todos os verões há o "Fort Boyard" e a "Caça ao Tesouro" (só que sem "Corre, corre Catarina!": são dois concorrentes um contra o outro e um único apresentador que não sai do helicóptero).

Anda aqui uma moda feminina ridícula, que parece que veio dos Estados Unidos: calças muito, mas muito descaídas, de modo a que se possa ver um pouco do fio dental atrás (normalmente numa cor bem garrida). Já vi alguns destes espécimes na rua; uma até levava as mãos às ancas para puxar as calças ainda mais para baixo...

Faleceu a Condessa de Paris, uma tal de Isabel de Orleans e Bragança. Ainda deve ser aparentada aí do Irrigador...

Documentário sobre S. Petersburgo: num bar, dois irmãos gémeos ganham uns trocos com os turistas ao fazerem-se de sósias de Lenine. Enquanto jogam Monopólio.

Durante 10 dias decorreu a Armada de Rouen, onde se reúnem de 4 em 4 anos dezenas de veleiros de todo o mundo. Só na despedida ontem estavam 2 milhões de pessoas nas margens do Sena ao longo dos 100 km entre Rouen e a foz no Havre.
Durante a estadia houve as normais visitas a bordo, festas à noite, fogo-de-artifício diário, etc. Os mais animados eram os indonésios que não paravam de dançar (e que deixaram muitas meninas lavadas em lágrimas nos cais).
No meio daqueles veleiros todos, havia um que se destacava por ser o único com as velas decoradas. Com
as cruzes da Ordem de Cristo (já agora, o Comandante do Sagres II é um autêntico sósia do António Lobo Antunes e fala um francês impecável).
Aprendi também que a vida de marinheiro já não é o que era: com uma máquina fotográfica digital e um PC portátil, vão-se enviando umas recordações lá para casa. Um paliativo para as saudades que pode baixar os riscos do amor em cada porto...

Jorge Moniz às 09:07 |




E chegou a vez de uma trintona:

Parabéns Rita!


(lá consegui arranjar um bolo cor-de-rosa...)

Jorge Moniz às 08:34 |



sexta-feira, julho 04, 2003



O vírus dos trinta anos anda definitivamente a rondar o homme. Pela terceira vez, há um membro a passar a mítica barreira:

Parabéns Luis!



E segunda-feira há mais!

Jorge Moniz às 08:20 |



quinta-feira, julho 03, 2003



Tenho andado a matutar nuns versos bem ri(t)mados que li de manhã cedo. "viver a vida dos outros"
Não é o que acontece à grande maioria das pessoas? Somos todos inexperientes, nunca antes vivemos a vida que estamos a viver agora. Andamos todos ao mesmo, sem saber muito bem o que queremos. Certo, muitos de nós fingem bem (sai provocação: os homens em particular, "para as gajas pensarem que eu sou muito decidido"). Tudo o que decidimos fazer é sem dúvida influenciado pelo que os outros já fizeram. Pegamos num pouco deste, num pouco daquele e essa mistura é sempre original. Esta é a parte boa.
Quando temos mais dificuldade em ver essa originalidade, permitimo-nos algumas excentricidades. Como por exemplo: ser um jovem quadro de sucesso a morar em Lisboa e não comprar o Expresso, não ter um BMW, não ir ao ginásio, não querer ter dois filhos, trocar um pouco de pragmatismo por um pouco de utopia (ver letra do Fitter Happier dos Radiohead).

Um compositor isola-se na floresta sem ouvir música durante anos, para poder compôr algo de novo e diferente, genuinamente seu. E se ele nunca tivesse ouvido música nenhuma?

(Olho para o que acabei de escrever e parece-me tocar perigosamente o estilo daqueles ficheiros power point que recebemos por e-mail com umas frases em cima de umas paisagens. Talvez reconhecê-lo me desculpe da preguiça de o melhorar.)

Jorge Moniz às 11:59 |




Para tudo há uma primeira vez: granizo em Julho.

Jorge Moniz às 11:02 |




Adivinhem quem está cá a promover cheia de sorrisos o livro onde relata a história do seu par de cornos e que provavelmente vai dar série televisiva protagonizada pela Sharon Stone. Hillariante.

Jorge Moniz às 08:38 |




Ainda o tango. Há quase 10 anos no Teatro da Trindade. Um par argentino em cima de uma minúscula mesa quadrada, quase sem espaço para mexer os pés. Uma voz masculina e idosa levanta-se do público: "Isto não é tango! Isto é uma pouca-vergonha!". Levantam-se outras vozes: "Schiu!", "Se não gosta, vá-se embora!". A primeira voz levanta o corpo de onde sai e partem ambos. No palco continua o tango em cima de uma mesa, consciente de ser muito mais olhares do que passos.

Jorge Moniz às 08:32 |



quarta-feira, julho 02, 2003



Ja' agora, é essa versão do "Por una cabeza" que é dançada pelo Al Pacino e a Gabrielle Anwar no "Scent of a Woman" (um dos raros casos em que prefiro a versão americana ao original europeu).

- Excuse me Señorita. Do you mind if we join you? I'm feeling you're being neglected.
- Well, I'm expecting somebody.
- Instantly?
- No, but any minute now.
- Any minute. Some people live a lifetime in a minute. What are you doing right now?



Jorge Moniz às 13:25 |




Como ser criativo usando praticamente só dois acordes num disco inteiro, que é viciante e me fez pela primeira vez comprar algo da prateleira House/Techno (classificação discutível...): La Revancha del Tango - Gotan Project
A cereja em cima do bolo é tratar-se de uma edição especial com algumas faixas gravadas aqui ao vivo, uma das quais totalmente acústica, fazendo lembrar a versão que os Tango Project (curioso...) fizeram do "Por una cabeza" do Gardel.

Jorge Moniz às 10:10 |




Nesta célebre sequência de avarias, agora são os contadores de comentarios que não são actualizados algures entre o blogger e o enetation...

Jorge Moniz às 08:38 |



terça-feira, julho 01, 2003





Esta imagem é muito rara. No Verão, o Sol põe-se mais a norte, por cima das casas. Para ver estas cores é preciso um fim de tarde de Inverno com apenas algumas nuvens altas, no sítio certo. E muito frio.

Quase todos vocês já o viram. Mas não se devem lembrar. À chegada fica-vos de um lado e vocês olham para o outro. À partida é a cena inversa. E enquanto lá estão, não vão à janela olhar para ele. Eu que lá moro/morei, conheço-o bem. Bem somadas, foram muitas horas à janela, a ver a chuva, o sol, as nuvens, o céu, o rasto de um avião, quem tocou à campainha, a relva, os arbustos, os gatos e o carvalho do outro lado da rua.

A palmeira do lado de cá da rua cresceu comigo. Há fotos a prová-lo, caso eu não me lembrasse de vê-la pequena. Mas lembro-me. A nespereira também. Também já foi pequena e eu lembro-me. Mas o carvalho, pelo menos para mim, sempre teve aquele tamanho. Assistiu impassível ao que foi passando por ele.

Quando eu era novo, eram as carroças puxadas a burro que passavam por ele. E o som era o dos estalidos da língua dos homens e das mulheres a incentivar o animal entre dois "arre burro". Hoje já não há burros. Quer dizer, há: em locais turísticos de actividades de fim-de-semana. Andar de burro agora é um desporto radical: viva a natureza e o nosso jipe que nos leva para longe da cidade para mostrar aos nossos filhos que afinal os ovos saem do cu das galinhas! (tudo reservado com antecedência pela internet, manda uma mensagem à avó a dizer que chegámos bem)

Agora o que passa por ele são carros e camiões. Alguns já lhe acertaram. Outros vieram direitos ao meu muro (o chamado cruzamento de fraca visibilidade). Mas ele continua impávido e sereno. Em dias de forte temporal lá se agita um pouco; há uns meses caiu-lhe mesmo uma braça.

Quando eu era pequeno, ia com o meu avô apanhar as bolotas que caíam do outro lado da rua.

Jorge Moniz às 12:21 |